quarta-feira, 28 de novembro de 2007

O ferreiro do coração


Uma Araponga cantava
Canta em minha cabeça
Liberdade, liberdade, liberdade

Ela quer ser livre
Livre das obrigações
Das desobrigações totais

Minha cabeça quer
A Araponga quer
E canta a liberdade bigorna

Paris, Londres, Berlim
Amsterdã, Lima, Roma
São Paulo o meu coração livre

A Araponga é a voz
A voz do meu coração
Bate como um ferreiro bate

Liberté, Freedom, Freiheit
Vrijheid, Libertad, Libertà,
E a brisa sopra fresca

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Simples desafio


O Simples é um desafio.
Simples assim, como dizia um querido perdido professor de meu passado.
Nada é simples assim, nem mesmo o próprio simples.
Há muito pouco de simples no simples, quase nada!
Complicar, isso sim é simples

Simples assim como ver o céu azul de manhã
O céu laranja de tarde
Negro da noite sem estrelas
Estrelas simples
Simples pontos brilhantes

Pra quem entende assim
E quem entende?

domingo, 4 de novembro de 2007

Na hora do almoço

Todas as terças era lá o almoço, no mesmo lugar, restaurante simples, toalhas de plástico e pratos de vidro. O encontro com o careca narigudo era sempre pontual, a troca de um rápido olá como dono do local, gordo, bochechas rosadas, bigode portuguesíssimo que se enrolava nos cantos da boca como que a invadindo. Aquele pensamento usual sempre lhe voltava à cabeça, agradecia a Deus pelo ensebado ser o dono do lugar e não o cozinheiro ou ele teria que abrir mão do picadinho e do refogado de abobrinha das terças de que tanto gostava.

No bufê de quatro cubas serviu-se como de costume, copiou o peso do prato da semana passada, água com gás sem gelo, dois palitos de dentes e três guardanapos. Chegava sempre mais cedo do que os outros clientes e assim tinha sua mesa e cadeira, no canto do pequeno salão de pé-direito alto, sempre reservados. O careca agora não era mais narigudo, ele se sentava de costas. A nuca dele também era careca!
De cabeça baixa nem via o restaurante se encher, falar cada vez mais alto e bater copos e talheres. Naquela mesa travava-se uma guerra, dava a última do mesmo modo como dava a primeira garfada e fim.
Não comia rápido por pressa e sim por hábito.

Pagou sua conta também rapidamente, já sabia o valor até mesmo nos centavos, era assim há sei lá quantos anos, ou seriam décadas? Só as unhas do gordo sebento é que estavam desta vez mais compridas e sujas, de resto tudo igual.

Saiu, o restaurante ficava num posto de gasolina, tomou rumo do banco, na calçada viu todos aqueles que sempre via naquele lugar e àquela hora.

Eram seis guichês, três funcionários: A gorda, o rapaz da gravata mais odiosa jamais costurada e a loira feia, sempre ocupavam as mesmas posições. Naqueles vinte e tantos minutos semanais de fila ele pensava em muitos assuntos importantes, falava em silêncio consigo sobre a fome no mundo, biocombustíveis, as taxas de juros e por mais que tentasse evitar sua mente trazia a imagem e era inescapável. Aquela gravata maldita era, talvez, a única coisa que o fazia sentir ódio de verdade. Tendo feito tudo, com um aceno de cabeça saiu rápido cumprimentando o vigilante baixote á porta.

Na padaria um café americano, americano pelo copo e não pelo café. Com isso fecharia seu almoço, mas não antes de ver sua esperada. Com o copo na mão fixava os olhos na porta que dava acesso ao escritório de contabilidade que funcionava no segundo andar sobre uma loja de tecidos do outro lado da rua. No fundo do copo o café esfriava enquanto esperava ver a secretária do contabilista voltar do almoço.

Na espera apneica o fim café já morno no fundo do copo também esperava enquanto ele pensava em como ela estaria hoje. Sandália amarrada nas canelas, ele veio saber que eram chamadas romanas muito depois de tudo isso, ou hoje seria o vestido, ou o terninho bege já surrado, mas que vestia tão bem. Cabelos amarrados em coque ou soltos ao vento? Não importava, fosse como fosse ele já conhecia todo seu guarda-roupas e já imaginara todas as combinações possíveis e impossíveis de suas peças, e já vinha chegando a hora.

Por seus cálculos os quatro minutos que separavam seu café quente da volta da esperada já haviam passado.

Tomou com a garganta o café gelado assim que desistiu de esperar. Talvez ela tenha faltado, uma tia doente quem sabe, certamente ela não se adoentava, era corada e parecia ser forte e saudável, nada de mais.

Lamentou não poder vê-la hoje e o quanto sua tarde seria triste e sua manhã seguinte sem graça por isso, pois não poder contemplá-la deixava sua vida gelada como aquele fundo de café.

Pensava estas coisas e seus olhos lamentosos ainda procuravam vê-la mesmo sabendo que seria inútil, o contabilista trabalharia sozinho hoje, ela realmente havia faltado no trabalho, apenas faltado como raramente acontecia, nada mais, só isso, pensava e se convencia e se acalmava com essa idéia. Amanhã tudo volta a ser como antes.

Tomou o rumo do escritório que nesta tarde seria um freezer sem o calor daquela visão de sete segundos. Caminhou mais lento do que o lento de todo dia, lento como quem não quer chegar. Num instante raro levantou a cabeça e viu a multidão, um ajuntamento na esquina da grande avenida, chegando mais próximo do burburinho percebeu os curiosos acotovelando-se em volta de algo o qual ele não sabia o que poderia saber. Ninguém poderia.

Nunca tivera este tipo de curiosidade, não era afeito a muita gente junta, mas pelo que se podia ouvir enquanto contornava o vulgo ainda tentando chegar ao escritório, agora como quem quer acabar logo com aquilo, é que houve um atropelamento. Como mágica assim que ele virou a cabeça, a massa humana abriu-se e por ali pode ver o terninho bege ensangüentado.

A esperada foi morta pelo bonde.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

A pequenez do não escrever e questões maiores

Prezados presentes,
Escrever se tornou um peso pra mim, esta é uma afirmação muito estranha se vem de minha pena, que pena!
Não porque obrigatoriamente tenho que produzir qualquer porcaria a cada semana, se bem que ultimamente isso é a única coisa que me tenho conseguido fazer, suar as palavras, mas este é o sentimento: Inspiração boa zero!
Minhas dobradiças têm rangido muito por conta desta secura e meus movimentos parecem cada vez mais limitados, e pior ainda, cada vez mais previsíveis e isso é muito chato.
É certo que este tema me é recorrente e quem lê se lê minhas coisas reconhece o ‘charme’ de falar sobre o não ter do que falar, mas muito infelizmente aquilo realmente foi charme, mas isso aqui não o é. Escrever se tornou um peso pra mim.
Sentimentos tenho aos milhares de milhões e muito bem visíveis pra mim apesar de não muito bem definíveis, idéias e pensamentos continuam a povoar e reproduzirem-se em mim por toda parte. O que ocorre é que colocar isso porta a fora está sofrido, pesado e difícil como um trator de esteira!
Tentei analisar minha falta de tempo e colocá-la como responsável por isso que está aqui em meu sapato, mas apesar disso ser verdade, eu tenho tipo pouco temo sim até de pensar, esta não é a razão primeira para esta dor de parto que nunca produz um filho.
Creditar isso à pseudo falta pouca visibilidade, digo isso, pois apesar de não termos tantos comentários postados nossas visitas únicas estão em número muito próximo ao quinhentos por dia, o que acho bom e pode melhorar é verdade, mas este é um número bom, mas não é isso, não tenho esta sede há tempos, aprendi a não depender mais dos amendoins.
O que tem deve ser dito também é que apenas usuários ‘logados’ podem comentar e isso inibe muitos comentadores, se vocês perceberam fomos atacados por máquinas de comentários/spam/comercial da pior espécie e isso nos obriga a exigir o login do usuário comentador, um mal necessário que resolve um problema sem outra solução visível por ora, muito infelizmente.
Voltando, já estou de saco cheio disso, mas tenho que acabar com o texto:
-Muitíssimas idéias, sentimentos, questionamentos, os quais teriam sua válvula de escape natural na escrita estão aqui acumulados. Motivos tenho muitos, como já dito, mas por ora a porta está fechada e trancada!

domingo, 30 de setembro de 2007

Muito seco

Arial – 12.
Visualização em layout de impressão, 100%
Nada de negrito ou itálico.
Alinhamento à esquerda, eu normalmente não altero as margens.
Destaque nos erros de ortografia.
Isso me diverte e me ajuda.
Não raro ele consegue ser mais burro do que eu!

Uma música on-line nos fones de ouvidos, qualquer coisa.
Qualquer paixão me diverte.
Qualquer coisa de que eu goste!

Luz baixa, mas que possa chegar ao teclado com ela.
Deito-me de lado no espelho da mente.
Encosto o nariz até embaçar.
Respiro devagar pra continuar a enxergar

Estas malditas têm me fugido
Malditas quando longe
Se não podemos domá-las
Desejáveis se seu suor nos molha a roupa
E as cavalgamos

Faz tempo estou só no oco de um espelho embaçado
Só mas nunca só de verdade
Eis aí o grande desafio
Pelo menos tenho consciência de minha situação
Não me coloco como um visionário
Alguém que quer se enganar e por querer já engana!

O cursor em sua intermitência irritante.
Não permite que eu disfarce meu disfarce.
Nem comigo mesmo ele me deixa ficar só.

Alguma rima que não rime nos ouvidos
Mas que rime na mente sã de preferências

E por mais que eu cave por ora nada de água!

domingo, 23 de setembro de 2007

Pra onde vamos?

Será esta pergunta justa?
Isso dependerá de quem responde.
Sempre depende de algo
Nada é o que é e ponto.

Nem o ponto.

Dependemos do relógio
Da energia elétrica
Seu completo inútil!
Nem pensar sem suas pilhas é capaz
Um completo inútil pós moderno

Ou seria contemporâneo?

Acerta quem duvida e
Quem duvida com a dúvida certa
Erra quem responde
Nada é fechado ou aberto
Nada é aberto ou fechado
 
Sempre olhamos pela fresta da janela. E olharemos.

domingo, 26 de agosto de 2007

Um copo D'água, por favor

Por favor, um copo d'água
Gelada, trincando de tão gelada
Num copo limpo
De vidro o copo, tá?

Na mesa uma bolacha
Aquelas de Chopp, sabe?
Não quero rodelas na mesa
Quero a mesa seca

Ali no meio coloca um vasinho
Pode ser um cravo, ou uma rosa
Não, rosa não, por favor
Uma rosa pode me lembrar a Rosa

Aqui nesta mesa não quero ninguém
Aqui só água, cravo, estas cadeiras
E eu, na medida do possível
Rosa não!

Agora leva este agradecimento aqui ó
E me deixe aqui com meu copo limpo
Meu cravo branco no vasinho
E minhas cadeiras vazias. Obrigado.

domingo, 19 de agosto de 2007

A volta pretensamente contagiante de quem nunca foi.

Pensei se poderia manter paralelamente a Edição do site e esta velha Liberdade Vigiada. Fiquei estático, pensei que isso talvez, quem sabe, demandaria mais energia do que eu tenho disponível para dar, mas também que isso não poderia me fazer desistir do sonho antes do final, como um dia eu já havia refletido.
Junto com isto me veio um pensamento de mudança, de tomar conta e de tratar diretamente com aquilo que gosto que eu poderia, com minha entrega, contagiar e emocionar os amigos que nos conhecem, ou que pouco nos conhecem, e que aqui nos vêem semanalmente divagando, sonhando, reclamando, poetando, suando e lutando contra aquilo tudo que nos rasga por dentro, por fora e entre estas duas coisas.
Por isso vou fazer tudo isso! Não sou de promessas e nem de fazer média. Quanto aos que desistem, tenho uma boa notícia, nossa nau tem sempre um lugar vago e apesar dela estar sempre em alto mar, há sempre a possibilidade de embarcar, ajudar e curtir a brisa que vem com cheiro de maresia que as ondas deste mar nos oferecem.Neste espaço os poemas que li e minha poesia terão a preferência. Seja sempre bem vindo, e tendo saco, por favor, comente.

Um braço
M.

segunda-feira, 7 de maio de 2007

Quem é?

Quem é você que se gaba?
Quem é você que profere impropérios e não ruboriza?
Que pensa e pensa que pensa
Além disso está sempre certo se fala
É forte, quem é?

Quem é você que caminha e não deixa rastro?
E atravessa a praça sem medo
Quem é você que de mãos livres está armado?
Sua voz é o trovão e seus olhos os relâmpagos
E transcende, quem é?

Quem é você que carrega o nome inédito de seu pai?
E que quando abre ninguém fecha
Se você sabe tudo diga: quem é você?
Quem é você que nunca não está?
E domina, quem é?

Quem é você que não falha, e quando falha diz por que?
Quem é você, ou ao menos de onde vem?
Mostre-me quem te conhece e quem te vê
Quem é você e o que está fazendo?
E faz, quem é?

Quem é você que não duvida e que não deixa dúvida?
E que falando fecha a questão
Quem é você que seduz prende e laça?
E reúne Aquiles e Ulisses em seus braços e na cabeça
E infeitiça, quem é?

Quem é você que sem asas voa e sem pernas corre?
E se corre ninguém alcança e voa tão alto!
Que ouve pensamentos e vê os sentimentos
Quem é você que entende?
E se manifesta, quem é?

Quem é você que carrega nos braços seus amigos?
E em seus bolsos traz milhões
Quem é você que não muda e não se desfaz?
E que perfaz na vertical e horizontal
E possui, quem é?

Quem é você?
Vou no seu encalso e vou chegar aí
E quando eu aí chegar vou resolver isso tudo
E no face-a-face vou descobrir também
Quem sou eu.

segunda-feira, 30 de abril de 2007

Calo-me

Não há mais o que dizer
Vou calar

E concentrar

Vou concentrar em calar

Minha língua vai repousar

Durante um segundo

E quando isso vier e chegar

A cabeça e o estomago

Tomarão a cabine de comando

Vai descansar como quem é morto
E neste breve meio segundo

Em meio a esta apnéia

Minha atenção toda

Minha concentração estará

Voltada à vida, calado

segunda-feira, 16 de abril de 2007

Grande satisfação encontrar-te por aqui

Grande satisfação encontrar você por aqui

Aprendendo a gostar de ti

Mesmo de tão longe e friamente
Pelo teclado, fio e tela
Conheço-te, desconheço-te
Dilema desta nossa geração
A buca do calor em palavras e idéias
Mesmo não sabendo se o outro lado saberá
Ler e apreender tudo aquilo

As palavras falam.

Quem tiver ouvidos para ouvir que ouça
Quem tiver olhos para ver que veja

Quando o homem fala
Pede atenção, requer reflexão
Sei que você entenderia até mesmo

O silêncio meu!

segunda-feira, 9 de abril de 2007

Deus, o grande barbeiro

Sabiam que de minha estreita relação com Deus, sabiam de meu relacionamento privilegiado com o criador, e que diariamente falo com Ele e que Ele fala comigo.

Mesmo sabendo disso, ou exatamente por saberem disso perguntaram-me:

– Porque o homem precisa de Deus?

Antes de qualquer outra coisa tenho que pontuar um par de coisas importantes para o norteamento deste pensamento:

1. Deus é uma pessoa.

2. Deus é o criador de todas as coisas.

Talvez esta não seja a ordem, contudo não quis considerar a maior ou menor importância destas afirmações, o fato fechado é que são absolutamente fundamentais, e não posso pensar na idéia de Deus sem estes preceitos, além do mais, estabelecendo isso evito ficar elencando motivos e listando razões e fatos aleatórios. Fazer isso seria uma boa, mas fica pra uma próxima.

Comparo Deus a um pai, ou a uma mãe, daqui pra frente vou classificar como pai simplesmente, mas a idéia exata está mais próxima dos pais, mãe e pai, do que apenas da figura masculina. É possível dispensar os préstimos de um pai? Abrir mão daquilo que um pai legítimo pode oferecer aos seus filhos?

É evidente que para estabelecer uma relação de paternidade com alguém, seja ele quem for, é preciso posicionar-se, posicionar-se e permanecer na posição. No caso da paternidade divina esta posição é feita de duas coisas, nesta ordem: Fé e amor.

Pensar na função ou utilidade de Deus é como pensar na ação de um pai no decorrer de toda vida de uma pessoa.

Pra começar toda criatura é fruto de uma criação a qual depende de um criador parque haja de fato. Um filho pressupõe um pai.

O pai cria, provê, protege, auxilia, ensina, encaminha, orienta, exorta, corrige e apóia entre outras várias coisas que faz pelos seus filhos. Minha experiência como filho e como pai me diz que isso é uma daquelas coisas que parecem estar corretas e estão corretas, digo que não há engano nisso!

Filhos precisam de um modelo de aparência moral, coisa que naturalmente os filhos buscam na pessoa do pai. Pense num filhote de falcão, por exemplo, ele não escolheria saltar do ninho feito na encosta da montanha por conta própria, isso é coisa do pai, por ele ficaria no ninho indefinidamente e com isso jamais voaria.

É evidente e claro que para o homem ter um pai como Deus é uma questão de escolha. Lanço mão de um exemplo sobre o acreditar e dispor de Deus como pessoa e como a pessoa de um pai:


Um homem conversa com seu barbeiro enquanto este lhe corta a barba, conversam sobre a situação atual do mundo, guerras, desordem, violência, fome, miséria. Em certa altura da conversa o barbeiro disse:

- Sabe, pensando bem não acredito que exista um Deus como aquele que aprendi que existia em minhas aulas na escola dominical.

- Mas porque está falando isso? Perguntou o homem com espuma no rosto.

- Oras como posso acreditar que haja um Deus que nos ama e que criou tudo e que deixa todas estas barbaridades acontecerem pelo mundo? Que pai é este? Indignado brandiu a navalha no ar.

Naquele momento o cliente não respondeu nada, compreendeu a indignação do barbeiro e posicionou-se solidário a ele, mas deixou claro não concordar que não houvesse Deus, apesar disso não entrou nesta discussão, afinal o homem tinha uma navalha que cortava até pensamentos.

Acabando o serviço, despediram-se muito educadamente, como de costume. O cliente saiu da barbearia foi pensando naquela coisa de que não existia Deus, e tudo mais o que o barbeiro, seu amigo de muitos anos, havia dito.

Andado pela calçada viu vários homens com os cabelos e barbas compridos e despenteados, lembrou-se do amigo da barbaria, voltou lá e ao entrar disse:

- Sabe, pensando bem não acredito que existam barbeiros nesta cidade.

Assustado o barbeiro diz:

- Como assim? Eu estou aqui o dia todo, como pode dizer que não existo?

- Oras como posso acreditar que existam barbeiros se andando pelas calçadas daqui só se vêem homens com os cabelos e as barbas compridas e despenteadas?

- Mas como posso fazer algo se estes homens não vêm a mim?Se vierem poderia cortar-lhes cabelos e barbas, e digo mais, se vierem numa boa poderia até fazer desconto ou não cobrar pelo serviço, conforme o caso!

(!!!)

Em minha opinião é exatamente isso que ocorre com o homem, Deus está lá, pronto para cortar a barba e cabelos de quem se dignar a entrar em seu salão e sentar-se em sua cadeira de barbeiro.

segunda-feira, 2 de abril de 2007

Vivendo vai morrer

Qual é a do poeta se não escrever?
Quem rascunha terminar
Ao que corre chegar
Àquele que explica esclarecer
A quem trabalha o pagamento

Esforçando-se reconhecimento
Estuda quer canudo
Nascendo quer crescer
Crescendo quer viver
Vivendo vai morrer

Não sei bem se o poeta escreve
Pois a sina de quem ama é não amar

segunda-feira, 26 de março de 2007

Escolher, a Rosa

Quando cabe a nós a escolha
E em nossas mãos está o destino
Norte ou sul não importa, esse é só seu
Dormimos o sono dos poderosos
O tempo nos rouba a primazia da escolha
Percebemos que nunca no coube preferir ou preterir
Esteve sempre já determinado
Apenas não nos era dado saber qual
Pois se há alguma coisa soberana por si só
Esta é a rosa-dos-ventos

quinta-feira, 22 de março de 2007

Vou escrever poesias

Vou escrever três poesias

Escrever à tinta

Três, pois três é um número bom

Poesias não têm compromisso com a matemática

Correr a caneta no papel

Como quem rabisca uma assinatura conhecida

Automático, escape autônomo

Os dois são amigos e não pedem recibo

Com a demanda acelerada dos dias nossos

Adequar coisa como esta dispensável

Encaixar o grito rouco quase mudo

É afogar o coração em um mar de esperança 

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

Olhei pro alto

Somente o céu

Sem nuvens astros ou estrelas

Somente o azul líquido


Aí sim percebi

Aquilo que me iluminava

O Sol estava ao meu lado

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

Opções e possibilidades.

Tudo nesta vida é uma questão daquilo que resulta da relação entre a opção e a possibilidade, dentre outras pequenas quimeras. Inicialmente é levada em consideração, e se possível fosse além de inicial seria exclusivamente, nossas opções e escolhas baseadas em vontades e preferências.

No entanto muito pouco daquilo que fazemos, pensamos ou sentimos, está sujeito apenas ao índice do querer ou do preferir, aliás, estes podem ser chamados índices ou critérios virtuais, pois nunca são determinantes finais para qualquer questão, seja ela pessoal ou não.

Ficamos emparedados nas possibilidades, limitados por coisas que não têm a menor preocupação com nossas vontades ou preferências.

Tenha sorte de gostar daquilo que está ao seu alcance e seja feliz como a sabedoria popular propõe: “Não tenho tudo o que amo, mas amo aquilo que tenho”, ou aprenda a adaptar-se.

Mas este segundo caso não está no campo da vontade, mas nos domínios das possibilidades. Quem sabe este seja o caminho, parar de refletir no que poderia e focar-se exclusivamente naquilo que é ou no que pode efetivamente ser?

Isto, talvez, se não for bem pensado e pesado, pode se tornar na morte prematura dos planos e sonhos insistentes em nascer com capim, sem que se precise plantar. Este é um assunto para outro momento.

Tudo dentro das possibilidades, é claro!

segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

As coisas que fiz em uma fase que se foi.

Juntei aquelas coisas que fiz

Nesta fase que ora morre

Coloquei em uma pasta

Cabia tudo numa pasta

Fechei com um ziper

segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

O próprio e o universal.

Tenho que achar graça mesmo das coisas que acontecem comigo. Parece que as situações diariamente têm o cuidado de manter claro de forma indelével que nada está sob meu controle, nem relativamente tão pouco absolutamente.
Deter o controle das coisas é muito confortável e desejoso, saber o quê, quando, onde, como, quem, por que, talvez resuma os desejos mais universais do homem, pelo menos do homem ocidental.
Contudo a impressão que eu tenho é que não foi dado ao ser humano apreender todas as estas coisas, ao menos não todas de uma só vez. – Se ficamos loucos na busca por isso, penso: O que seria de nós se pudéssemos dar conta de tudo?
Isso tem levado o homem a um sistemático isolamento social, uma separação em tribos, gangues, camadas sociais, condomínios e em outros tantos formatos, que em última análise, deixando de lado a busca por conforto e segurança física, tem por fim criar um sumário do universo que contenha os básicos “o quê”, “quando”, “onde”, “como”, “quem”, “por que”, entre outros pontos de conflito de maneira que se possam controlar minimamente estas entidades incontroláveis do universo universal em um universo próprio, isso provoca a realíssima impressão de poder, controle e conforto. O homem quer viver em uma mentira, desde que esta esteja sob seu comando.
Ignorar o universal e concentrar-se no próprio pode trazer felicidade.
Isso é engraçado ou não é?