segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Colheita

johnbrosio.com

Não me fale de seu passado dolorido
aquela farpa no dedão que incha
nem do pano imundo de suas feridas
tampouco importa seu caminho
sua falta de comida e de carinho

Nem me venha em lamentos
de uma comiseração de si
e esses sentimentos comezinhos
não comece o que não terá fim
neles, em você ou em mim

Vire-se pra descobrir
aquilo que foi feito de propósito
e tudo o que foi sem-querer
as crueldades mais cruéis
cruelmente não planejadas

Nada disso mais faz efeito
que passe o passado que passou
deixe de coisa e cuide da vida
desejou, plantou e agora está aí
sua e somente sua colheita estreita

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

O Pária

johnbrosio.com
Ajustar a importância é importante
garantir que seremos maiores
seremos mais completos
humanos Generosos, éticos
bondosos, equilibrados e
justos.

Mesmo que ser completo
implique em ter os defeitos
aqueles que criticávamos
evitávamos.

Serenos, calmos consequentes
responsáveis, adequados eficazes
medíocres, compreensíveis e
compreensivos.

Idiotas médios deste ajuntamento patético
associação de incansáveis salva-pátrias
escumalha de excomungados
renegando a liberdade
a mais autêntica e candente falsidade
em seu perfeito embuste

E acalme-se.
Os mais importantes dentre os eleitos
e entre nós o mais importante de nós.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Sim, mas caso não...

Das várias descobertas oferecidas pela vida
há aquelas simples e muito difíceis
outras ridiculamente fáceis, mas complicadas
e outro tanto incontável de combinações.

- Aprendi uma meia-dúzia, quem sabe?

Ninguém importa-se e nem quer saber.
Amar é uma coisa, viver é outra diferente.
Saber parar é mais importante do que começar.
A tristeza é muito mais útil do que a felicidade essa que inclusive é boba às vezes (sempre!).
Assim como a dor é mais produtiva do que o prazer.
Decisões são feitas para serem tomadas e não adiadas.
Dizer sempre e somente a verdade pode ser perigoso (é!).
O como é mais importante do que o o quê.
Importância é a gente que dá.
Nada é um acontecimento; tudo um processo.
Em se tratando da matéria da vida o Tempo é mestre.

Tanto, algumas custaram muitas lágrimas, outras menos...
Tudo o que faz parte e determina o que sou (ou acho que sou)
se sou, se fui, se sim ou se não.

- Se.

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

As mesmas mudanças


E de falar sempre das mesmas coisas
o sem-novidades de buscar novidades
enquanto desperdiço o desaproveitado
não conseguindo saborear o nada
aquele que dizem em italiano
enquanto eu penso em itálico
tendendo à frente, à frente, em frente
mesmo em estado estático ergométrico
massacre aos joelhos por tanto cansados
buscando significados gastos, vencidos já
e que simplesmente não servem mais
como aquela roupa

E de falar sempre as mesmas coisas
as coisas mesmas e nós
escolhendo entre o difícil e o mortal
querendo mudar.

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Fiji


Essa saudade que não morre
e que se deseja necessária
se acha importante...
Andei sozinho curto caminho
logo meu tanque de paixão baixou
e sem combustível o poeta pára.
Parei.

Sonhei em ser uma ilha
daquelas do pacífico
ilha que seria
ela só todo um arquipélago
e me veio essa naufraga
visitante indesejada imortal parece.

Vinha eu sozinho, sabendo
Rarotonga, Nive, Apia, Samoa
Parei em pane-seca.

Quero o que seja meu!

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Ampliando a visão

Pela galáxia
piolho d'universo
neste planeta
pulga da galáxia
este fungo planetário
o grande Homem
assina o talão

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Variando uniformemente

Lindas sutilezas desperdiçadas
lições que aprenderíamos agradecidos
e os sentimentos saneados
a ensinar-nos mais à toda hora

Num futuro bem próximo
não precisaríamos disso
Colagens de pseudo pensamentos
com arremedos toscos de sentimentos

Posso desistir a qualquer momento
minhas falhas seriam perfeitas
Aquela briga infinita
da a cabeça contra a barriga

Quem saberá?
Ninguém saberia
e se saísse,
quem entraria?

Olha bem aqui a pontinha do meu nariz
nem se nós explicássemos
você entenderia o quanto
que a gente é feliz

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Forasteiro


Queria ser de uma cidade distante
de bem longe, donde ninguém conhecesse
assim desconhecido, forasteiro
travando com você uma briga amiga
na qual o sangue se obriga

Eu seria um passante anônimo
escaparia da ferina rua
do pobre e do cansado pedinte
seria eu mesmo quase um pedinte
não o sendo apenas por não pedir
e igualmente nada receberia

Feliz ao largo das tristezas
não querendo nada, nada além apenas
um não ser simplesmente
se desconhecido de mim mesmo
fugindo, fingindo

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Zigue-zague

Jeff Clow
Quando forem se forem
as transformações serão
feitas sobre a bases
já há tanto assentadas

Eis que o outro
aparecerá em si
mediante à toda essa
energia empenhada
- Oxalá!

Note que mesmo o sapato 
num outro passo segue
sendo aquele mesmo

O mesmo que é outro
e o outro que é mesmo o mesmo
todo dia transformando-se
e acaba sendo aquele mesmo
aquele que sempre foi
e segue sendo o que fora
desde o nascimento 
deste outro mesmo

E por mais que faça
desde sempre
neste sendo simplesmente
e neste ir e vir
de ser e não ser
aprende ao menos
que o mesmo mesmo sendo outro
nunca será mesmo outro e
a estrada entre este e aquele
essa sim será o professor
nos bancos da escola da vida
sendo e também não

Vez ou outra
quando der.

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Corrigindo o Dicionário


Sentimento: substantivo abstrato
sem matéria
carinho, bem querer, tesão e o Amor

Quem sabe com sorte e muito trabalho
um dia eles sejam mais do que isso só

Em seus sentidores conjugando verbos
e sua matéria
no desempenho de sentir

Sentimento: susbtantivo concreto

segunda-feira, 29 de junho de 2015

Esclareça, por favor

Gerrard King
E quando se algum dia você
Estiver de frente consigo mesmo
Num espelho mágico qualquer
Ou no quarto escuro só
Com o travesseiro por testemunha
Pelo caminho à tarde contra o sol
Ainda num sonho delírio ou desejo
Não perca a oportunidade
Tenha uma conversa franca
E não se esqueça de perguntar
O porquê de tudo isso

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Encontre-se

                                                                          Gerrard King

Um dia você vai sentir-se sozinho
Não pragueje ou reclame nem tenha medo
Nestas muitas voltas que o mundo dá
O encontro com a solidão
Só não é garantido pois
Nesta vida nada é assim, garantido
No mais, pensando bem na solidão
Tenho a impressão de que
Na verdade, o medo que solidão traz
É só medo mesmo de encontrar-se
Consigo mesmo à sós.

segunda-feira, 15 de junho de 2015

Um bloco

Josep Moncada

Se a palavra de ordem é sentir, sintamos. Não pensemos e esqueçamos. Um grande apenas só e tão somente sentir. Parece-me evidente que a cabeça vai acabar por pensar estes sentimentos todos, se é que algum dia eles ele virão assim. Talvez, não sei, não seja o caso de se pretender parar o pensamento em função do sentimento, mas sim ficar mais atento para que o que for para se sentir que seja sentido e o que for para ser pensado, que se pense. Atenção para as misturas, pois elas certamente acontecerão e quando acontecerem que se saiba e que se meça para que possamos entender, um pouco que seja, o resultado.

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Há vida

Demandas Exigências Necessidades
Desejos Vontades Atrocidades
Planos Decisões Consequências
Outras consequências Demandas
Deliberações Acertos Conformação
Adequação Entendimento Frustração
Aprendizado
Novas decisões e suas consequências
Um novo ciclo e outro ciclo
Outra vez enquanto há vida

segunda-feira, 1 de junho de 2015

Venha


Tente aproximar-se devagar, medo...
vai encontrar como
aos poucos, devagar
conforme o conforto permitir
sem pressa, só não perca tempo

E vem de olhos abertos
vem com medo
vem como quem quer
vem como quem não tem medo
chega mais perto, vai!

Junte tudo o que já foi feito
e aquilo que nunca se fez por um engano
junte todos os erros
todos os arrependimentos
traga toda a história e as lágrimas
não jogue nem mesmo as mentiras...
aproveita-se tudo,
aqui tudo tem seu valor

Mas se não quiser nada disso
se não quiser mais nada
venha só venha nua venha rápido!
mas venha e assim é que eu espero

Tenho medo e não sei o que fazer igualzinho faz você
mas isso tanto faz se você vier
- Vem!

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Insistência


A busca de um espaço em branco
vão de tempo no calendário
folha em branco sem pauta
em escrever o que se quer
e que o que se quer seja compromissado
de verdade, à vera, pra valer
com um desejo que por sua vez
também seja verdadeiro, sem invenção
sem inversão ou subversão tampouco

Um motivo uma razão um mote
alguma coisa qualquer coisa
coisa que converse entenda
considere contenha contemple
assista e que se lembre
de que a gente insiste em existir

Veja o tamanho do atrevimento
alguma coisa, coisa que seja...
pagaremos muito caro, muito
pela petulância de buscar
querer, desejar, estar e
insistir em ser, pensar e sentir

segunda-feira, 18 de maio de 2015

O tempo só

O tempo não corre
O tempo não anda
O tempo não volta atrás
- E o que é que o tempo faz?
O Tempo acaba!

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Vida, a minha


Aos ventos uivantes
e aos campeões invictos
às conversas truncadas
às promessas quebradas
e todas minhas outras angústias

Ao palhaço no picadeiro
ao pipoqueiro na calçada
às conveniências quase todas
ao sentimento sem sentido
e ao livro, ao livro

Ao taxista ocupado
ao amor livre
ao assento marcado
à uma espera sem fim
e ao já e ao ainda-não

Ao ventre também livre
à quem preocupa-se
ao que ocupe-se
à quem trabalha
à quem atrapalha

Às convenções que aceitamos
às concessões que fizemos
ao pão-com-manteiga
e ao café-com-leite
e às frases sem acento nem pontuação

Ao guarda-chuva chinês
ao que sabe
àquele que ignora
às listas infinitas
ao meu esquecimento também

Dedico á tudo isso
e à muito mais e tudo que não foi dito principalmente
Porque agora eu esqueci mas haverei de lembrar um dia

- Eu dedico e então dedico

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Último Beijo


Hoje é a noite
em que o beijo final será dado
em que será inaugurada a saudade

Um abraço de adeus não muito apertado
um último olhar profundo
daqueles até a alma, de desde sempre

Talvez um suspiro soluçado, uma lágrimas ou não
mas haverá de ficar marcado o beijo que sabe-se derradeiro
e que ficará a povoar sonhos e pesadelos

Beijo de adeus, de nunca mais
o beijo final, o último
e o único de que não se esquece

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Motivos e Razões


Há aquela porção infinita de motivos para parar
e o arremedo em que acreditar
que valeria a pena, apena, apenas.

Uma das soluções que inventei foi esperar
esperar este dia ruim passar, vai passar.

Acreditar que a aurora virá nova
trazendo nos braços motivos novos
motivos fortes, muito além desta imitação
alguma mentira em que se possa crer.

E que esta imensa dificuldade traduza-se
naquele simples fato de não entendemos
somente nós não entendemos mas que entenderemos.

Há também o sonho e o desejo de querer
e descartáveis, não carecem da mais do que fé
fé em que seremos o suficiente e o bastante
mesmo não sendo, mesmo não sendo nada disso.

Muito pouco importam as decisões que tomamos
que me parece, são somente satisfação à consciência.

A realidade solenemente às ignora
mas teremos ao fim o sentimento de dever-cumprido
eterno consolo dos cumpridores-de-obrigações
não serve de nada a não ser para isso mesmo, o lixo!

O melhor talvez fosse entendermos e assumirmos
a vida é pouco mais do que só sofrimento
e quem sabe deixar de buscar
este motivos pra que sim ou pra que não
talvez e assim, sim ou não
sofrer um pouco menos ou ao menos
não sofrer tanto por isso
e seus motivos sem razão.

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Miseravelmente

Franco Clun
Estagnado como quem espera
não espera por nada
vai passando como o tempo
passa e não percebe
vai indo sem propósito
a propósito de querer
muito quis, muito quis.

Um confortável não fazer sentido
esperando que as peças encaixem-se
num arranjo todo novo
um novo completamente novo
que revise os velhos erros
temperos destes dias
à cada dia mais curtos

Fazendo por aguardar o fim apenas
como o gado ao abate
como quem sabe seu fim
mas nem sabendo de si mesmo ao menos
não questiona, estagnado
vai se virando, vai se ferrando
até o fim, insensato fim.

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Vocêu

Imaginei você
Sonhei com você
inventei você
esperei por você
quis você
segui você
desejei procurei
aceitei a você
tentei você
gritei você
investi em você
me banhei de você
expliquei você
guardei você
você no quem
você no como
você no onde
o porquê de você
conformei-me com você
confortei-me em você
chorei você
e choveu você
ventei você
suei você
você você
vou você
venho você
briguei você
negociei você
joguei você
apostei perdi
lembrei-me de você
voltei você
fui você
e de novo você
quebrei você
fumei você
cheirei você
apliquei você
expliquei você
apurei você
comi você
cuspi você
sempre você
ainda você
insisti em você
assisti você
eu você
caminhei você
mergulhei você
e ó você aqui!
Amei, amei
amei você.

segunda-feira, 6 de abril de 2015

Olha só pra você
Aí sentado na espera
Um dia aquilo a quê dá valor
Será reconhecido como valoroso

Você que chegou a ser
A ‘Esperança que respira’
Teve em si a marca do futuro
Sentado jaz agora no passado

Havemos de ao menos
Lembrar de ti e de todo depósito
Que lhe foi confiado
E o tanto de presente
Que a gente perdeu
Aguardando o porvir que viria
Pela sua simples existência

Olha só você
Quanto olho que te viu
Qual é o olho que te vê?
Nenhum samba cataria hoje você.

E dos merecimentos antecipados
Não restara nem o rastro
Tampouco se viu seu fiador
Errante, hoje pensa
no tamanho de seu erro

Memórias serão seu espólio
Única coisa que achará
Quando meter a mão por dentro
Do saco do tempo
E pela vitória será reconhecido
Então, pelo enorme troar de sua derrocada

Houve até quem se pusesse a adivinhar
Tais e quais obras farias tu
Se contassem ninguém acreditaria
E mesmo na simples esperança
Esta formidável mentira
Foram construídos
Todos os tipos de sonhos
Que pena, que pena!

Eis que veio o tempo
Feito um ladrão
Tomou todo mundo de susto, supetão
Ora sentado você desacredita
Olha só que coisa!

Quem diria?
Quem diria que um dia...

E a esperança, apneica, roxa, desfalece
Acaba mas que não esquece
Daquele que no passado
Fez a luz do futuro no presente
Redimiu-nos a todos
Na espera do grandioso futuro
Que nunca nos veio
Nunca nos veio

Olha só pra você agora
A queda de quem não subiu
A entrada de quem não saiu
A volta daquele que nunca partiu
Olha só...

segunda-feira, 30 de março de 2015

Triângulo

À Marcelo Horácio e Maurício Pedroso.

A gente se cumprimenta e diz desejar o melhor
tenta estar com quem se gosta

Minha dica seria só fazer questão de quem faz questão
mas nada disso é motivo e nossos motivos conhecemos bem
e os desejos que moram aqui o ano todo
não se medem pela distância
ou pelo tempo em que não estamos juntos

Somos, cada um de nós
o vértice de um triângulo
que muda sua forma pelos caminhos que trilhamos
toma formatos impossíveis
mas nunca se desfaz
ligação pré-histórica que vai muito além de explicação

segunda-feira, 23 de março de 2015

O que eu tenho feito?

Sinto saudades
  tenho feito planos
    venho fazendo força
      pra sentir alguma coisa

- Alguma coisa que só sinto quando estou contigo.

        Tenho imaginado conversas
      pensado nos lugares em que estivemos juntos
   aos quais vou voltar nunca mais

E assim sentir mais saudade
      Tenho me esforçado também
    pra deixar de só sobreviver
  e passar à vida

Tenho não querido completar as lacunas eu mesmo
as lacunas que o tempo permite
e que a saudade abre sem parar

E tenho querido te ver
te cheirar e te abraçar bem forte  
pra quem sabe se    
meu querer     
meu desejo          
de ter você for real e mais forte            
sabe lá ele se materialize                
mesmo que só por um instante                   
              
- Acho que é isso
                      isso que tenho feito. Acho!

segunda-feira, 16 de março de 2015

Calculando


E as contas que fizemos?

Contamos o tempo
Contamos dinheiro
Contamos com o outro
Contamos com o ovo
Contamos histórias

Foi-se tempo
Acabou-nos dinheiro
Veio solidão
E sem o ovo que não veio
O resto virou história

segunda-feira, 9 de março de 2015

Ao mercado

Uma novidade em meio à crise
a crise que traz dificuldade
mas também vem com ofertas
oportunidades pra quem pode.
Em meio à guerra os generais
e nas igrejas, cardeais
a faculdade e seus bacharéis
o tribunal, o juiz e os fiscais.
Há mesas, mesas e mais mesas
pilhas e pilhas de decisões
e outros montes de erros.
Imediatamente é ontem;
esperança, um papel molhado
que me vem no bolso
e os corações dispostos
frescos nas prateleiras.

segunda-feira, 2 de março de 2015

Assumindo

Pegue a estrada adiante
ao azul tocando o verde

E cruzando agitadas águas
rompendo as cercas
por sobre os montes
entre vales verdes
direção ao azul
o azul
azul

Vá ao vento
dê a cara ao vento
esqueça-se na estrada

E o caminho será o fim;
e o fim o caminho
enfim

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Nunca chegar


Chegou como sempre, nunca assim
e falou como se não houvesse chegado
O pensamento de nunca chegar
assim falando até que digam: - CHEGA!

A insistência que é só esperança
espera que tudo endireite-se ou esquerde-se
nem sabe o porquê de tudo isso
nem do tudo e nem do isso

Em meio ao caos da tempestade e o barulho
os cães e o vento, todo ele, a carregar o telhado
E o Tempo vai
sendo, vai
indo tentando e dizendo
mas por ora
Só existindo como se não houvesse havido
Suando sua alma!

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Mim

Sou eu
e até aqui fui eu
no final serei eu
quando não ou sim
e no talvez fui eu
procure lá, era eu
no esquecido
na promessa
da palavra.
Eu

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Queira fazer o favor


Não quero favor
Quero apenas que me queira
A Valer, tudo, queira e
Queira meu gozo e meus ais e
Queira meu riso e
As lágrimas todas que caem

Quero que queira como quero
Queira minhas palavras
Mesmo não sendo aqueles afagos
Querer entender os gemidos
Minhas caretas, minhas manias meus caprichos

Queria que quisesse assim
Nada de favores. Não quero
Queira na colher o meu corpo
Queira acolher a minha alma

E sem promessas que queira a verdade
E o desejo das minhas palavras
minhas palavras
minhas Palavras todas.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Sabugo de escolhas


Todas as saídas e as alternativas das alternativas
advindas das escolhas labirínticas que fizemos

Ainda consta em minha lista aquele truque
ainda não testado, mas que funciona em meus sonhos
lançarei mão dele no tempo exato
forjando aquela peripécia impossível impossível

Ficará para traz a poeira da estrada e as paredes todas
me cercavam e achavam que podiam me deter
aquela desaparecerá e estas formarão o monumento
o monumento ao nosso sofrimento

E aquilo que fica bem no meio e que não sei bem
se de éter ou se sólido ou líquido ou se é fumaça mesmo
e que há já há tanto dentro e entre será dissecado definitivamente
e o céu todo imenso toldo será pouco pouco para as asas que vestirei
não conterá o meu coração e vai chover o passado passado
e vai ventar e o quanto espalhado vai encobrir aquele valioso como

Lá há de se respirar e ver a luz toda a iluminar, brilhar brilhar
E o monumento terá seu momento
e aí, e então tudo o mais virará história
A ocupar um canto qualquer nas memórias de alguém alguém.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Respeitável público (A platéia atônita)

Homens de negócios
Sentimentaloides chorosos
Malandros
Generalistas inveterados
Motoristas em geral.
Os pingentes da Central
Poetas apaixonados
E a Vida
Policial de trânsito
Pré românticos
Esquerdistas xiitas
Roqueiros ensebados
Donas de casa dedicadas.
A ligação que cai
Craques de dominó.
O gol impedido
Militantes não praticantes
O bandido.
O cavalo do bandido.
Presidente e seu vice
Tudo o que se disse.
O joia à beira da estrada
Ex futura esposa
Crítica de arte aposentada
Estilista de chita.
Os pipoqueiros
Cada garçom amigo
e o dono do botequim.
Noivas atrasadas
O centro da cidade
Crianças barulhentas
Promessas esquecidas
Todos os 'sem-quer'.
Aquilo que não fez sentido
E eu
E Você.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

E me transborda


O peito que fala
ao ouvido surdo que 'ouve'
e cala que só a boca
neste sentir todo
transbordando seu não caber
a escorrer pelas sarjetas
incautas sortudas

E vai e volta se voltar
volta quando couber
se um dia couber, um dia frio
que faça com que caiba de volta
às não mais suas bordas
que não suportaram, não sei
se suporte darão

Arriscado ficar onde está
nesta borda que transborda
que transforma que transporta
e transgride agride

E falando falando palavras palavras
palavras com que pudesse preencher
em quantidade o que a pouca efetividade
dessas palavras não fizeram
palavras palavras sem fio
palavras sem pontas, cegas
por verem o quanto falam
desde este peito
até aquele ouvido surdo
O quê dizer?
Pra quê falar mais então?

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Quem saberá?


Se no encontro
dum ouvido atento que entenda
a atenção devotada dará à luz
no casamento com o desejo de dizer
tudo o que pode ser dito
mesmo que este eleito como tudo
seja não mais do que quase nada
na imensidão do abismo sem nem eco

Encontra-se então a voz, o tom
os quês e os comos ligeiros
que não perdidos, foram-se escondidos
e hoje jazem no fundo do nada
à exemplo do que fez o eco

E o desejo e a saudade e o medo
e o Tempo, sempre ele
aos assuntos há tanto abandonados
gastos e dados por encerrados e
que no mar de tudo isso há muito
acabam por voltar à praia
oferendas enjeitadas
sujando as areias
atrapalhando o banho

E quem saberá de mim
e desta multidão de coisas
trazidas cá no peito
já cobertas pela poeira
duma esperança há muito
agradecidamente esquecida?

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Não aguentar mais


Ir além e mais e mais
ainda que sem suportar
trouxe-nos aqui este
continuar quando muito nobre
já seria desistir ali mesmo
Demanda assumida por quem sabe
que apenas saber não basta e
que bastasse um nada
para que pudesse suportar tudo
e de novo e mais e além

Os mais corajosos ou estúpidos (à conferir)
e que tem em si
o poder de escolher
trilhar todo o pior
caminho, sem atalho
sem ajuda, sem mapa
sem luz e quase toda
a esperança de que se pôde

Mas o limite será o fôlego
o limite seria o corpo
o limite é a vida
e aquilo que a mais poderosa
luz jamais iluminaria!
Quando ele chega, pra quê negar?
- E fim.