quarta-feira, 30 de agosto de 2006

O olho

Fiquei observando Vi seu ir, seu vir, ir e vir
Sua conversa com as pessoas


Seu gesticular, articular


Curioso, não precisei ouvir
 
Os olhos ouviram
Minha pele sorveu o sorriso

Sorri de canto


A Mímica que encanta
Seu leve balançar balança


O seu desfilar desafia

E leva consigo minha consciência

De trás da vidraça sinto-me protegido
 
Suas ameaças de encanto não alcançam ali
Mas cativo de pensamento algemado


Levo sua figura para minha cama



Acordo suando

quarta-feira, 23 de agosto de 2006

Abismo de querer

- O que querer? Encontrar o segredo da INVENÇÃO num amálgama sadio entre as infecções tradicionais? Escarrar nos calcanhares da etiqueta e buscar no viço desta idéias uma forma para a nova REVOLUÇÃO estética?

 
- Se a revolução estética vier a reboque disso tudo, ficaria satisfeito. Mas não a tenho como alvo, e sim os novos pensamentos e novos modos de postar-se frente à noção corrente do que é certo.

 
- Do que é certo... A moral também traz ao peito muito pigarro; a diferença é que ela costuma engolir, junto com os pensamentos.

 
- Acredito que temos que dar nome às coisas, nomes tais que todos possam minimamente ter alguma apreensão, mesmo que para isso, os termos usados forem menos do que medíocres, e não encerrem uma idéia. Este é o caso de "certo"

 
- Conhecer-se é morrer... Saber é ver o que antes era certo tornar-se duvidoso... Portanto morto e cheio de dúvidas, volto a ler... Antes que me canse de morrer...

 
- Não pretendo que isso se pareça com algo que não se parece com nada. Pretensões todos têm afinal desejos são a água do rio de nossas vidas, planos não precisamos cultivar, pois eles nascem como capim após a chuva, mas se eu pudesse, sei perfeitamente que não posso, mas se eu pudesse fazer planos, desejar algo ou pretender alguma forma para isso, seria uma forma nova. Se eu entendesse isso, eu perguntaria: Isso é possível?

quarta-feira, 16 de agosto de 2006

Guerra

Isso aqui está muito ruim. Desde que há muito tempo, desde que há anos o dia começou chuvoso e chumbo.

Como isso mexe com os humores! Quase tão poderoso quanto a lua na maré. Aperto os dentes até me doer a cabeça. Vibrar de ódio, pensamentos fixos, olhar vidrado, vidrando mármore negro. Água fria, vento frio. Noite o dia todo.

Não vejo o fim, não há fim. Minha esperança.

Sobre e desce, passo firme, pernas bambas. Fome frio e asco. Nada muito profundo, mas tudo com a marca d’água do vazio, do sem-sentido; guarda-chuva sem tecido. O lixo do homem.

Penso pensamentos descartáveis, descartáveis soldados rendidos. Uma trincheira cheia de cadáveres jovens - Inocentes? Nunca.

Sair de farda, sair da farda. Poucos, muito poucos estão armados, ou são preparados para enfrentar e estreitísse da garganta ou a acidez de saliva, e então morrem entrincheirados e jovens, inocentes jamais! Quem veste farda não é inocente, mesmo sendo, não é.

Coisas do noite-a-noite não são guerreiros, são obrigação, para isso é que estás aí.

Mas guerra é guerra, e quando o toque de recolher acolhe estes mimos, é hora de encarar, encarar o espelho. - Opressão? Não! Opressão eu como no café da manhã, isto é muito mais! Amassado como latinha, enlatado como sardinha, temperado com óleo, pó, e cinza-chumbo, prata suja, ouro velho. Meus pés estão molhados, meus olhos congelados, gelo de água suja, cinza-chumbo, prata suja, o ouro novo como velho.

Enquanto falamos soldados morrem na boca para serem cuspidos, na trincheira serão esquecidos, na garganta engasgarão até a morte de seu autor. Este sim um inocente!

quarta-feira, 9 de agosto de 2006

D. Saudade

Foi um ano de Saudade
O vazio sem fim perdura infinito abismo sem eco.

Neste tempo muito mudou e várias coisas ficaram sem conversa.
Assuntos que só caberiam em um papo nosso: Órfãos como eu.
Dá medo olhar a linha do tempo e ver o seu rastro se apagar.
Dá medo ver que a ponta de sua linha vai ficando no horizonte atrás.
Vai ficando mas nunca fica.

Hoje minha Saudade é uma mala onde se escondem o nossos olhares.
É uma Senhora de respeito a quem peço licença.
Pra ela eu gosto de falar as coisas reservadas a você.

segunda-feira, 7 de agosto de 2006