segunda-feira, 24 de setembro de 2012

O Poeta

Olavo Bilac
Sempre ou quase perfeito
sinônimo de bobo
visionário, vislumbrado. 
Alienado, sonhador

Pois é que de verdade 
o sonho que não tem
por trás de de si
um poeta nunca será
um sonho completo, de verdade.
Nem poderá um dia sequer
sem seus devaneios
flertar com a realidade
sequer com a sombra dela

A realidade tão dura como é
não seria nada, não que ela seja
do que é ou do que se parece hoje
sem os olhos do poeta

Poeta que quando pode
se é que pode
abre mão de sí mesmo
de seus sonhos e sai
de sua realidade para 
olhar com os olhos
que não são seus
a um mundo que simplesmente
não o conhece em nada

Esse é o poeta.
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A um poeta
Longe do estéril turbilhão da rua,
Beneditino escreve! No aconchego
Do claustro, na paciência e no sossego,
Trabalha e teima, e lima , e sofre, e sua!
Mas que na forma se disfarce o emprego
Do esforço: e trama viva se construa
De tal modo, que a imagem fique nua
Rica mas sóbria, como um templo grego
Não se mostre na fábrica o suplicio
Do mestre. E natural, o efeito agrade
Sem lembrar os andaimes do edifício:
Porque a Beleza, gêmea da Verdade
Arte pura, inimiga do artifício,
É a força e a graça na simplicidade.
- Olavo Bilac

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Novas descobertas




Descobri um monte de
coisas sem você

Sem você eu conheci
tudo que eu conhecia

Sem você vi
o que eu já via

Sem você senti
aquilo que eu já sentia

Sem você vivi
coisas que eu vivia

Sem você andei
por onde eu já ia

Perguntas todas lindas
uma a uma, sem dó respondidas 

Pareceu haver mais azul
no azul do céu azul
de qualquer chuva

E um branco mais branco
como daquele sabão em pó
no sorriso mais brilhante 
do anúncio do creme dental

Sem você era eu enfim
mesmo sem você ainda
havia mim em mim mesmo
e minha definição de mim
enfim se redefinira

E pereceu o fim




Descobri outras tantas 
coisas sem você

Sem você eu conheci
conhecia mas não sabia

Sem você vi
via mas não enxergava

Sem você senti
sentia mas não percebia

Sem você vivi
vivia não, sobrevivia

Sem você andei
Mas o caminho eu não fazia

Minhas respostas tolas 
dizimadas ainda na trincheira

E este azul encinzentado
do céu chumbo enventaniado
e uma chuva sem esperança

E o branco tão branco
Sem sal, sem açúcar
no sorriso assim brilhante
amarelecido naquela foto

Sem você eu fui eu de fato
todo o mais esteve no mesmo lugar
o todo e de mim em mim mesmo
minha definição então
redefinida de novo em você

E que venha o fim.


segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Pax de Deux



Infinitude numa simples folha de papel
Infinitude pautada, pauta que se usa
Mas que nem precisaria

Uma linha de horizonte promissora
Uma linha móvel, ambulante, perturbante
Muito atraente, prática

Desafio sem fim, fase após fase
Desafio uma vida inteira a fio
Meu eterno infinito de mim mesmo

Bailarina azul equilibrando-se a cada salto
Balançando num tic-tac sincopado
Quando quer rima, quando quer verso

Música infinita bailarina equilibrada na ponta
Indo tão fundo que nem sabe
Os tesouros que encontra nesta dança

Dança que balança embalando-me
Numa simples folha de papel
Papel pautado, mas que nem precisaria

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Suspender

Vladimir Kush
Encontrei uma meia página em meu caderno, numa página do passado, um espaço bom para escrever, só que para minha surpresa e eu nem sei por que ainda fico surpreso com estas coisas, não havia nada para escrever.

Rapidamente pensei num motivo, eu que não busco respostas quis uma ali, instantânea, naquele milésimo de segundo. Achei, rápido ainda, que poderia simplesmente já ter, até ali, escrito tudo e que enfim encontraria o fundo de minha alma em abismo; mas que pretensão a minha, tão funda quanto esta alma quase.

Poderia ser, quem sabe, hora de voltar e buscar outra saída já que por mais que busque até hoje nem um vento fresco que me indicasse que estou no caminho certo de saída me ocorreu.

Ainda ocorreu-me que uma inédita vírgula em minha jornada se levantara e um descanso descompromissado desta busca então teria eu, ledo engano outra vez, olha eu aqui!

Então assumi a alternativa que se mostrou, ao menos a mim, ser a mais coerente, coerência esta doença incurável da qual padeço, um momento em que a escuridão se adensa não permite descanso e nem continuação da busca tão pouco qualquer fim ameaça anunciar-se.

Por ora a minha genial engenharia d’alma inventou: Será então a suspensão de tudo, da esperança, da busca, da manutenção da sanidade, é uma apnéia. Com os olhos abertos e nada, tudo suspenso.

E ainda e sempre, nem sinal de saída.