terça-feira, 23 de maio de 2006

O Caos Interno, Um Caos

Quando pensei um segundo, milhares de mil idéias compunham um grande mosaico de cores e formas que poderiam, sós, encher uma vida de duzentos anos num segundo.
E aqui em meu estomago tive um sentimento que era composto de doce e salgado, amargo e azedo, tudo junto e o mesmo tempo aqui onde as idéias se encontram com os sentimentos.
Se isso tudo se mistura e eu caio na besteira de tentar falar, minha boca dura e estreita mastiga tudo junto com a língua e quebra tudo o que poderia ser e por isso mesmo não é.
Sentado de pé deitado no escuro clarão de meus olhos fechados de rancor, súplica e angústia, vejo o sangue de minhas pálpebras finas sob a luz das luminárias que ofuscam os olhares sãos.
Sei que se um dia eu for capaz de ir lá onde estou lá bem no fundo de onde me escondo, e se lá, um dia, procurando encontrar-me, certamente terei um choque ao ver me, e do enfrentamento com meu eu de fato só restará a amnésia do desmaio e a volta sem lembranças, as quais só terei nos sonhos mais esporádicos e impossíveis de se entender.
Quem sonha sabe que isso é um reflexo daquilo. Eu, ultimamente, não tenho lembrado de meus sonhos!

terça-feira, 16 de maio de 2006

Grandes Encrencas (Que insistência!)

A pedra acertou bem na têmpora de um dos bichos de orelha pontuda.
Logo este cambaleou e a espada do adversário entrou-lhe pelo ventre. Caiu no chão com as vísceras rasgadas e o sangue púrpuro escorrendo pelo buraco da espada e pela pedrada que lhe lavara a cabeça e o tórax de sangue.
Quando foi abaixar para pegar outra pedra, sentiu que algo parou na sua frente. Logo sentiu uma pancada na cabeça, quando voltou a si, estava debaixo de uma criatura igual a que acabara de matar, lutando para afastar o punhal que estava prestes a adentrar seu peito. De repente a criatura desfalecendo amoleceu, depositando todo seu peso sobre ele, neste momento sentiu-se quente, era o sangue do morto que, atacado pelas costas, escorria pelo seu tronco.
Vendo a possibilidade de ficar vivo, e arrependendo-se da intromissão em uma briga pessoal, acomodou-se debaixo do mostro que o cobria, de modo a conseguir respirar e ver a batalha. "Melhor eu ficar quietinho até isso aqui acalmar".
Agora com as tochas que os monstros carregavam caídas e espalhadas pelo túnel e a posição afastada do epicentro da luta, sua visão estava melhorada.
Eram todos horríveis e fortíssimos, o grupo de seus cicerones era formado por seres de pele lisa verde-musgo e focinhos protuberantes além das orelhas de morcego. O grupo de oponentes era ainda mais horripilante, peludos, marrons e pretos, cabeças grandes, usavam como uniforme um avental púrpura, nas mãos, espadas e escudos aparentemente feitos todos na mesma forja, "estes sim de bom acabamento", pensou mais uma vez o armeiro.
A batalha era violentíssima, e os peludos levavam vantagem quando ele fazendo uma força descomunal conseguiu se desvencilhar do peso que o cobria, e correr em desabalada carreira túnel abaixo, à exemplo de seus companheiros.Por muito tempo continuaram a correr. O Ar quente fazia arder os pulmões a cada inspirada. O barulho da batalha foi diminuindo, mas mesmo assim a fuga continuou em ritmo acelerado corredor abaixo. Não sabem por quanto tempo correram. Só parou quando viu um de seus companheiros caído no chão e aparentemente desacordado. Era um dos sujeitos de túnica. Usava uma branca, mas que agora estava tingida de terra, sangue e cinza das tochas.
Parou, todos pararam. Era um lugar onde aparentemente o corredor era mais largo, quase como uma sala. Os homens aglomeraram-se em torno daquele que caíra. Enquanto encaminhava-se para também ajudar, verificou que ninguém trouxera tochas, no entanto havia luz no ambiente onde pararam. Espantado ele reparou que a luz vinha de mais adiante, viu também que as paredes a partir daquele ponto eram lisas e bem acabadas, assim como o piso que começava a formar desenhos geométricos regulares.
"O que será que isso significa? Primeiro aquela guarda de peludos, e agora isso!" Antes de se perder em pensamentos, auxiliou o caído e chamou os homens restantes para uma, já tardia, conversa.
-Seja lá para onde vai este túnel, precisamos permanecer juntos. Disse ele para o outro guerreiro que ajudava a acudir o caído.
-Precisamos nos recompor logo para continuar a descer.
- Se conseguíssemos achar uma outra saída para a superfície... Respondeu o Guerreiro ainda ofegante.
- Acredito que não há outra saída a não ser por este caminho. Sussurrou o companheiro caído, agora se recompondo da corrida.
- Esses calabouços já têm lendas suficientes para eu ter certeza do que vamos encontrar lá em baixo. Há quem diga que existem riquezas e outros dizem que há a morte, mas o fato é que poucas pessoas voltaram e uma delas foi meu mestre.
Enquanto o mago falava, os companheiros ajudavam-no a levantar, e à medida que falava o temor e o desespero eram trocados pela curiosidade e vontade de seguir adiante.

terça-feira, 2 de maio de 2006

Grandes Encrencas (Continuou!!)

Acordou não sabe quanto tempo depois, estava sendo carregado nas costas por um ser de pele escura, gelada, e úmida. Não pode levantar a cabeça, sentia uma dor na nuca como nunca houvera sentido antes, o ritmo da caminhada era frenético, e pelos sons ao redor o ambiente era fechado e faziam parte de uma caravana; o grupo que caminhava junto era grande e barulhento, o ar era quente.
Com a visão embaçada pela pancada, tentou analisar o chão para ter uma noção melhor do local. No entanto, a dor que ainda esmagava a sua nuca não cessava e o passo turbulento da criatura deixava a tarefa mais difícil. Raramente ouvia alguns grunhidos guturais vindos das criaturas e de tempos em tempos sentia um odor fétido de restos em decomposição, misturados com o suor da criatura e o cheiro de mofo das peles que circundavam o que parecia ser a sua cintura.
"Estamos descendo", pensou ele, quando o corredor fez uma curva para a direita e o ritmo da caminhada mudou para algo parecido com o descer de uma escada. A escadaria durou por muito tempo e o ar tornou-se mais respirável, não menos quente.
Enquanto desciam à escada, não pôde deixar de ouvir barulhos familiares. O tintilar de peças metálicas, estampidos abafados como se alguém usasse um enorme martelo de madeira, e o ranger grave e estalado do que parecia ser um moinho ou uma enorme engrenagem de madeira. "Isto não é um calabouço, não sei o que é, mas está muito agitado para ser um calabouço".
A esta altura já não sabia há quanto tempo, e nem qual a distância que tinham percorrido, talvez tivesse cochilado por algumas vezes no ombro da criatura.
Vindo de traz do grupo que caminhava, do fundo do túnel, ouviram-se rugidos e sons de marcha, os quais deixaram as criaturas alvoroçadas e visivelmente nervosas, os grunhidos entre os componentes do grupo aumentaram. Nervosos, deixaram os poucos homens que sobraram amontoados todos juntos e amarrados após uma curva fechada à esquerda, e então percebeu o que não havia notado até então, também tinha os pés e mãos amarrados.
Após ser atirado junto dos homens, alguns desacordados e a maioria sã, viu rapidamente a silhueta dos seres que os mantinham cativos, eram mais fortes e maiores do que o maior homem que já vira, tinham orelhas altas e pontudas como de morcegos, e usavam apenas uma tanga de pele, e uma espécie de espada larga e mal acabada. "Um serviço muito mal feito!", na opinião do especialista.
"Este feioso grandão deve ser o líder", pensou ao ver a criatura que aparentemente mandava no grupo, agora podia contar, eram pelo menos doze e organizavam-se para um ataque contra aqueles que vinham de traz.
O corredor rochoso não era muito largo e logo a massa de criaturas que urravam e emitiam guinchos estridentes chegaria a eles.
O som da batalha era horrível. Jamais ouvira algo dessa forma. Estava acostumado com vozes humanas gritando, mas aquilo era assustador. Mais assustador ainda quando se está com os pés e mãos amarrados.
Logo o embate começou. Retorcendo-se de um lado para o outro para fugir das pisadas, conseguiu se esgueirar para perto de um de seus colegas que fora jogado morto.
A armadura do guerreiro morto encontrava-se com uma perfuração de espada no peitoral e uma parte do metal estava rasgada como uma folha de papel, formando um bico afiado. Começou então a cortar a corda, que era feita de uma espécie de crina de um animal que sem dúvida não era um cavalo. Conseguiu cortar a corda e um pouco da perna. (cicatriz essa que teria para o resto da vida)
Logo que ficou de pé, já teve que desviar de um escudo que vinha do refugo de um golpe de massa de uma das criaturas sobre seu oponente.
Como um grande guerreiro levou a mão ao punho da espada, mas teve a decepção: esta lhe fora tomada enquanto era carregado.
Mais ao lado, havia algumas pedras e escombros. Conseguiu se esticar e alcançar um pedaço de rocha do tamanho de um melão. Arremessou a pedra contra a multidão, pois certamente estaria lucrando com qualquer um que derrubasse.