segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Uma nova lembrança



Quero a textura e o calor de seus lábios
e quero do beijo o gosto
o Beijo, aquele Beijo

Quero o Beijo que já sabe
o Beijo que já disse e prometeu
que acendeu a esperança

Quero um novo caminho na velha estrada
e quero uma nova nota
no velho cheiro e naquela música

Quero um novo toque
naquele velho carinho
e nele um novo arrepio

Quero uma nova nuance
naquela luz e um novo olhar
nos meus olhos e nos seus

Quero encontrar um nós dois
um que ficou pra traz
ou que nunca tenha havido

Quero inverter e subverter
Quero uma velha novidade
nela uma outra nova lembrança

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Eu labirinto



Um labirinto
paredes espelhadas
becos fechados
escuros, por vezes frio

Grandes, portas, portões
Os grilhões pesam
tornozelos e punhos
já tão valentes foram
hoje não se levantam
As guardas ficam baixas

Mil palavras
nenhuma delas explicaria
um labirinto escuro
sem saída
se não encontro o caminho

Curiosamente o Desespero
companheiro de tantas jornadas
desertou-me

Deixou em seu lugar
algo que não conheço
ainda não posso, como ele
chamar amigo, esse traidor.

Coisa bem particular
uma sanidade, quase indiferença
quem sabe experiência?

Tantas aulas Professor Tempo!

Um labirinto
paredes espelhadas e
por paredes transparentes
vejo a saída mas
não sei alcança-la

Um labirinto em mim
quando eu sair
dele estou certo
de que ele não
sai de mim

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Eu esquina



Sou esquina de opostos
ágora onde agora mesmo
discursam juntas eloquentes
luz e escuridão sem deixar sombras

Existe dentro
o passado ainda vivo
e o futuro que pulsa
homogeneamente misturados

Um quarto onde moram
a coragem de encarar
com o medo de se mover
dividindo a mesma cama

Como a areia e o mar
total integridade e
a maior falha de caráter
de alguém no mundo

Sou ponto e linha
o quente racional
e o agridoce da emoção total
A convicção da incerteza

Quando morre a criança
e ao mesmo tempo sou
quando o velho quase vivo
enche o peito de esperança

Em mim a calmaria
dentro da ventania
desejo em desdém
e a distância de estar-se junto

Encruzilhar insólitos
especialidade minha
mesmo não querendo e assim
sem deixar de não ser. Vou sendo

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

As verdades e as máscaras, o sol e a peneira



Estou certo de que não sei, de que não soube jamais e de que vivi ao engano.
Mas de que outra maneira poderia eu seguir e não desistir da caminhada caso assumisse que não?
O engodo foi minha tabua de salvação, foi meu porto, meu esteio até aqui e eis que minha consciência batendo à porta cada vez mais forte com o aríete da verdade...

Nem a porta e nem eu aguentamos mais! Defendido por um biombo transparente e livrando-me do sol com uma peneira ainda sinto-me confortável apesar de concordar que os murmurares ficam mais e mais audíveis e que logo mais ela vai falar claramente e não será mais possível ignorar que já não ignoro e que ouço e que compreendo tudo o que vem gritado da boca grande da verdade através do biombo de vidro e da malha folgada de minha peneira-de-sol. Abandonar o logro, meu ninho confortável e familiar...

Abandonar a sedução será, muito em breve, impossível assim como foi até agora encarar a verdade de portas e peito abertos em cada uma de suas pontas feitas de verdades afiadas.

Verdades e máscaras; o tempo trabalha e favor daquelas para acabar com estas.