segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

O tamanho do céu



Descobri sobre o céu
um de seus segredos

O simples céu azul
e a liberdade
fincada no firmamento

Ao ar livre meça
um palmo acima da cabeça
é sempre ai que começa
o imenso céu inteiro e
você decide onde é que acaba

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Uma nova lembrança



Quero a textura e o calor de seus lábios
e quero do beijo o gosto
o Beijo, aquele Beijo

Quero o Beijo que já sabe
o Beijo que já disse e prometeu
que acendeu a esperança

Quero um novo caminho na velha estrada
e quero uma nova nota
no velho cheiro e naquela música

Quero um novo toque
naquele velho carinho
e nele um novo arrepio

Quero uma nova nuance
naquela luz e um novo olhar
nos meus olhos e nos seus

Quero encontrar um nós dois
um que ficou pra traz
ou que nunca tenha havido

Quero inverter e subverter
Quero uma velha novidade
nela uma outra nova lembrança

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Eu labirinto



Um labirinto
paredes espelhadas
becos fechados
escuros, por vezes frio

Grandes, portas, portões
Os grilhões pesam
tornozelos e punhos
já tão valentes foram
hoje não se levantam
As guardas ficam baixas

Mil palavras
nenhuma delas explicaria
um labirinto escuro
sem saída
se não encontro o caminho

Curiosamente o Desespero
companheiro de tantas jornadas
desertou-me

Deixou em seu lugar
algo que não conheço
ainda não posso, como ele
chamar amigo, esse traidor.

Coisa bem particular
uma sanidade, quase indiferença
quem sabe experiência?

Tantas aulas Professor Tempo!

Um labirinto
paredes espelhadas e
por paredes transparentes
vejo a saída mas
não sei alcança-la

Um labirinto em mim
quando eu sair
dele estou certo
de que ele não
sai de mim

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Eu esquina



Sou esquina de opostos
ágora onde agora mesmo
discursam juntas eloquentes
luz e escuridão sem deixar sombras

Existe dentro
o passado ainda vivo
e o futuro que pulsa
homogeneamente misturados

Um quarto onde moram
a coragem de encarar
com o medo de se mover
dividindo a mesma cama

Como a areia e o mar
total integridade e
a maior falha de caráter
de alguém no mundo

Sou ponto e linha
o quente racional
e o agridoce da emoção total
A convicção da incerteza

Quando morre a criança
e ao mesmo tempo sou
quando o velho quase vivo
enche o peito de esperança

Em mim a calmaria
dentro da ventania
desejo em desdém
e a distância de estar-se junto

Encruzilhar insólitos
especialidade minha
mesmo não querendo e assim
sem deixar de não ser. Vou sendo

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

As verdades e as máscaras, o sol e a peneira



Estou certo de que não sei, de que não soube jamais e de que vivi ao engano.
Mas de que outra maneira poderia eu seguir e não desistir da caminhada caso assumisse que não?
O engodo foi minha tabua de salvação, foi meu porto, meu esteio até aqui e eis que minha consciência batendo à porta cada vez mais forte com o aríete da verdade...

Nem a porta e nem eu aguentamos mais! Defendido por um biombo transparente e livrando-me do sol com uma peneira ainda sinto-me confortável apesar de concordar que os murmurares ficam mais e mais audíveis e que logo mais ela vai falar claramente e não será mais possível ignorar que já não ignoro e que ouço e que compreendo tudo o que vem gritado da boca grande da verdade através do biombo de vidro e da malha folgada de minha peneira-de-sol. Abandonar o logro, meu ninho confortável e familiar...

Abandonar a sedução será, muito em breve, impossível assim como foi até agora encarar a verdade de portas e peito abertos em cada uma de suas pontas feitas de verdades afiadas.

Verdades e máscaras; o tempo trabalha e favor daquelas para acabar com estas.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Poema sem poesia


Há pouca poesia no poema
É mais poesia
a poesia que há dentro

Há poesia na solidão do poeta
e quase nenhuma no poema dele
ou no do outro, aquele outro

Na alma dele repousa uma protopoesia
firme e disforme conforme ele vive
E muito pouco vem para o poema

A poesia do encontro
e a do desencontro
diminutas ainda
são maiores do que a poesia toda
do maior poema

Há pouca poesia no poema
tão pouca poesia no poema
Há pouca poesia
Quase nenhuma poesia há

É que a poesia tem vida
A poesia tem alma também e
um pouco de vontade, o poema não

Nada a convencerá de que é objeto
De que é um ser e vive e sofre

A poesia da vida é prima
da poesia da alma e o poema
é filho bastardo

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

A janela




Não dá pra um lugar legal
a visão dela não é muito inspiradora
não importa o horário ou a luz

De lá a Aurora não é empolgante
e nem o Crepúsculo do dia reconfortante

Através dela a visão é um tanto turva
e os vidros mantenho sempre meio sujos
não quero ver pela vidraça cristalina

Não uso cortinas

Agradeço a ela pela pouca luz de dia
e a noite pela penumbra azul que deixa entrar

Olho e sei que ela também olha pra mim
num olhar lamentoso suspirado que dá
de frente para meus olhos perdidos
em meio a vizinhança que perambula

E quando reflete os meus olhos
sonhando o céu impossível
sonha também em estar n'outro lugar
dando entrada a uma luz profunda
de um cenário que nem precisaria ser perfeito

Minha Janela

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

O menino e o homem



O homem que traz a casa nas costas
e o mundo todo em cima da cabeça
nos bolsos esperanças em pó e
o rosto molhado de memórias

O menino que ouve músicas das pedras
mesmo quando dorme brinca
meninos que se prezam brincam a sério
O boné dele é feito de futuro

O homem quando é velho viveu e
assim a vida teve todo o tempo de
apresentar-lo ao menino perdido e
o menino será o homem que será menino

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Aquilo



Aquele olhar que não lancei
mancha ainda minhas retinas
em cada cor e contorno
emoldurando meus olhares todos

Aquela palavra que eu não disse
existe em mim e nela
o sentimento não confessado
e o medo cujo tremor engoli

Aquele desejo que não se realizou
está aqui dentro e
o sonho me sonha todo dia
e à noite insone ele se vinga

Aquele carinho que não fiz
repousa à flor da pele
na esperança do encontro
querendo morrer num arrepio quente

E aquela felicidade fez morada
na casa da esperança
e pensa em ser pra sempre
ou pra nunca mais em memória só

Nos olhares
Nas palavras
Nos desejos e
Nos carinhos

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Lázaro


Quando você lembrar-se
daquela lágrima atrevida
a correr rente a dor
com ela a esperança
que se foi, ardida

Quando os olhos 
já desacostumados
com a alegria dos sorrisos
já ausentes há tanto
(sei lá o quanto) tente
buscar algo mais precioso

Certamente está lá
n'algum lugar sortudo
dentro bem fundo morando
ainda ao menos
a esperança do amor
a sair tirando
de si as ataduras
Logo!


segunda-feira, 24 de setembro de 2012

O Poeta

Olavo Bilac
Sempre ou quase perfeito
sinônimo de bobo
visionário, vislumbrado. 
Alienado, sonhador

Pois é que de verdade 
o sonho que não tem
por trás de de si
um poeta nunca será
um sonho completo, de verdade.
Nem poderá um dia sequer
sem seus devaneios
flertar com a realidade
sequer com a sombra dela

A realidade tão dura como é
não seria nada, não que ela seja
do que é ou do que se parece hoje
sem os olhos do poeta

Poeta que quando pode
se é que pode
abre mão de sí mesmo
de seus sonhos e sai
de sua realidade para 
olhar com os olhos
que não são seus
a um mundo que simplesmente
não o conhece em nada

Esse é o poeta.
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A um poeta
Longe do estéril turbilhão da rua,
Beneditino escreve! No aconchego
Do claustro, na paciência e no sossego,
Trabalha e teima, e lima , e sofre, e sua!
Mas que na forma se disfarce o emprego
Do esforço: e trama viva se construa
De tal modo, que a imagem fique nua
Rica mas sóbria, como um templo grego
Não se mostre na fábrica o suplicio
Do mestre. E natural, o efeito agrade
Sem lembrar os andaimes do edifício:
Porque a Beleza, gêmea da Verdade
Arte pura, inimiga do artifício,
É a força e a graça na simplicidade.
- Olavo Bilac

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Novas descobertas




Descobri um monte de
coisas sem você

Sem você eu conheci
tudo que eu conhecia

Sem você vi
o que eu já via

Sem você senti
aquilo que eu já sentia

Sem você vivi
coisas que eu vivia

Sem você andei
por onde eu já ia

Perguntas todas lindas
uma a uma, sem dó respondidas 

Pareceu haver mais azul
no azul do céu azul
de qualquer chuva

E um branco mais branco
como daquele sabão em pó
no sorriso mais brilhante 
do anúncio do creme dental

Sem você era eu enfim
mesmo sem você ainda
havia mim em mim mesmo
e minha definição de mim
enfim se redefinira

E pereceu o fim




Descobri outras tantas 
coisas sem você

Sem você eu conheci
conhecia mas não sabia

Sem você vi
via mas não enxergava

Sem você senti
sentia mas não percebia

Sem você vivi
vivia não, sobrevivia

Sem você andei
Mas o caminho eu não fazia

Minhas respostas tolas 
dizimadas ainda na trincheira

E este azul encinzentado
do céu chumbo enventaniado
e uma chuva sem esperança

E o branco tão branco
Sem sal, sem açúcar
no sorriso assim brilhante
amarelecido naquela foto

Sem você eu fui eu de fato
todo o mais esteve no mesmo lugar
o todo e de mim em mim mesmo
minha definição então
redefinida de novo em você

E que venha o fim.


segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Pax de Deux



Infinitude numa simples folha de papel
Infinitude pautada, pauta que se usa
Mas que nem precisaria

Uma linha de horizonte promissora
Uma linha móvel, ambulante, perturbante
Muito atraente, prática

Desafio sem fim, fase após fase
Desafio uma vida inteira a fio
Meu eterno infinito de mim mesmo

Bailarina azul equilibrando-se a cada salto
Balançando num tic-tac sincopado
Quando quer rima, quando quer verso

Música infinita bailarina equilibrada na ponta
Indo tão fundo que nem sabe
Os tesouros que encontra nesta dança

Dança que balança embalando-me
Numa simples folha de papel
Papel pautado, mas que nem precisaria

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Suspender

Vladimir Kush
Encontrei uma meia página em meu caderno, numa página do passado, um espaço bom para escrever, só que para minha surpresa e eu nem sei por que ainda fico surpreso com estas coisas, não havia nada para escrever.

Rapidamente pensei num motivo, eu que não busco respostas quis uma ali, instantânea, naquele milésimo de segundo. Achei, rápido ainda, que poderia simplesmente já ter, até ali, escrito tudo e que enfim encontraria o fundo de minha alma em abismo; mas que pretensão a minha, tão funda quanto esta alma quase.

Poderia ser, quem sabe, hora de voltar e buscar outra saída já que por mais que busque até hoje nem um vento fresco que me indicasse que estou no caminho certo de saída me ocorreu.

Ainda ocorreu-me que uma inédita vírgula em minha jornada se levantara e um descanso descompromissado desta busca então teria eu, ledo engano outra vez, olha eu aqui!

Então assumi a alternativa que se mostrou, ao menos a mim, ser a mais coerente, coerência esta doença incurável da qual padeço, um momento em que a escuridão se adensa não permite descanso e nem continuação da busca tão pouco qualquer fim ameaça anunciar-se.

Por ora a minha genial engenharia d’alma inventou: Será então a suspensão de tudo, da esperança, da busca, da manutenção da sanidade, é uma apnéia. Com os olhos abertos e nada, tudo suspenso.

E ainda e sempre, nem sinal de saída.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Ordem

Diga-me algo sobre você
alguma coisa, uma ou outra

Dê preferencia a algo
que eu não sei

Sobre você, diga-me, fala
conte uma história sua
uma visão ou uma opinião

Diga-me algo agora, de você
diga-me que quer me levar
levar embora pra qualquer lugar
hoje ainda, ou quando der.

Um medo, um sonho, um desejo

Fala assim: eu quero
Mas tem que ser agora
Agora e sobre você.
Entendeu?
Diga. Agora. Você!

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Dor


Quem é que quer
viver sem doer
Seria a gargalhada
Com a boca fechada
e uma sequência de fatos
acontecimentos sem mais
ou qualquer porquê

Imaginei a vida sem dor
Tive dó da vida

Tem dias em que a gente
acorda estranho mesmo
com pensamentos bestas
destes que todo mundo tem
um dia ou outro

Quem imaginou uma vida
sem dor não pensou
na vida ou mesmo na dor

Vida, Dor, Amor
Clichê, eu sei
antigo, ok
Mas como negar?
Funciona!

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Vapor



Exato mesmo assim
ou não tanto
E assim inexato
funcionam meus versos
coisas que uso
qual espelho
em que me reflito
No qual mergulho
então me vejo
ainda me perco
e me acho talvez
e voo também
de novo e neles
mesmo significo
e insignifico
ao mesmo tempo
se saio ou se fico
sendo e deixando
de ser, não sendo
e principalmente
um vapor ligeiro
desaparecendo

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Mudanças



Quero uma canção que celebre a alegria
Uma porção de versos de cores fortes
Onde a vida é desejada e neste desejo haja
A real motivação de se respirar

Quero que a Luz transborde de verdade e que 
Uma porção de coisas boas venham ao clarão
Onde a vida acontece sem medo, sem reserva
A real e verdadeira vida viva

Quero sorrisos de boca inteira
Uma porção de olhares profundos
Onde se veja por completo a um e a outro
A real maneira de compartilhar felicidade

Quero um horizonte verde e azul e
Uma porção extra de esperanças
Onde o sonho e a realidade são amigos
Uma realidade mansa e generosa

Quero vento fresco
Uma porção de amigos
Onde quer que seja
Realmente quero

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Na beira



Estou sentado mas
ainda posso me levantar

E melhor ver o fundo
desse precipício

Namorar um voo perfeito
sem asas e sem volta

Como deve ser

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Tudo



Havia tanto para entregar
tanto tempo e muita coisa
coisas que se passaram
e outras que não passam

Coisas que ficaram
sem verso ou rima
nem sequem uma prosa
qualquer coisa, nada

Nenhuma canção ou mesmo
um hay kay rabiscado
num guardanapo molhado
resumindo o mundo num sorriso

Tantos pensamentos
os pés-sem-cabeça
meus coisa-com-coisa
e ligações perdidas no celular

Poderíamos nos sentar
em qualquer lugar
e falar sobre o que não
foi dito pois se perdeu

E minhas inquietudes 
de fim de semana chuvoso
esperando ao menos
a lembrança do riso seu

Vejo assim e então
que de fato nada
ou pouco mesmo
há de estar perdido

E o que havia, há
E o que se foi, é
Dito sem lábios
Ouvido sem ouvidos

Visto sem olhos
e sentido sem sentido
Num coração prestes
a se perder, perdido.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Sinuca da vida




Ora, esta é uma daquelas jogadas
nas quais a vida é especialista
e sua posição é desfavorável
desconfortável, desaconselhável
e por muito tempo foi inimaginável
não se espante.

- Sinuca de bico.

veja que sem parar
as jogadas vão se sucedendo
o jogo vai se desenrolando e
chegará a inevitável hora
quando aquela tacada será inevitável.
Então, giz no taco!

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Despedir-se


Das tristes as maiores
não fossem coisas
paridas em encontros
menor seria sua fortuna

Sendo o Adeus
outra face de Olá

Despedir-se
só do que é importante
prerrogativa exclusiva
de quem é desta categoria
mais ainda no ocaso
como tudo na vida

Vida construída em tijolos
de encontros e despedidas

Uma vida
cuja porta de saída não há
lotada encontro após encontro
infelizmente vida não seria
não seria vida
qualquer coisa
vida não!

E o nada receberá
o simples abandono

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Ninguém




Hoje eu revivi um sentimento meu
Um sentimento todo ele só
Sentimento que num certo momento
desdobrou-se em si e em outros tantos
e tornou-se sabendo, um desejo
uma vontade como aquelas velhas todas
que em se tornando verdades
mudariam várias vidas minhas
e em não se realizando, no entanto
não mudariam a vida de ninguém, portanto
E assim mesmo não fazem qualquer diferença
Nem mesmo na vida minha
essa que me leva e que me lava

É o estalo da madeira verde no meio da fogueira
Orvalho depositado de leve na relva verde
vem, vai e ninguém vê, só a folha
essa sim uma que ninguém vê

Ninguém viu

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Baleias Azuis



Eis que acabou o fôlego de Nós Dois?
Mas então é assim que acaba?

Cada apnéia formidável da Baleia Azul
mergulha ao mais intimo d’água numa só respirada.
Descobre-se que o maior fôlego dos oceanos
o ser gigante que pôde ir ao mais profundo
onde o azul é feito do puro negro
este que nadou nas águas mais inacreditáveis
de qualquer mar e descobriu baias impossíveis
um dia perde o ar.

É assim então que ao meio a terra cinde?
E tudo desaparece escorrendo pelo no grotão?

Não mais nadam Baleias Azuis
Os mares estão órfãos
E não há mais fôlego em Nós Dois
O amor ficou órfão

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Conversa


Queria falar contigo uma qualquer coisa

Foi como se de repente sentisse você
querendo falar comigo outra qualquer coisa
ou a mesma, não sei
ou nada ainda, talvez

Quando foi que nossos assuntos deixaram de coincidir?

segunda-feira, 11 de junho de 2012

A medida do querer


Quem foi que disse que
a medida daquilo que queremos
deve ser a medida daquilo que entregamos?

Minha medida de querer
não respeita qualquer índice
não considera qualquer fato ou circunstância
não leva em conta temperatura
não vê altitude ou a época do ano

Quero como é quente o sol do verão
e no frio cortante de qualquer inverno
quero na febre do desejo e quando o outono
insiste em derrubar as folhas do meu pé de desejo
a primavera chega de repente e o faz renascer
querendo mais e mais em flor
uma flor multicolorida
que não murcha sem dar seu fruto

E quero ainda!

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Necessidade



Como que do nada
passa a precisar
de uma coisa tão simples
tão simples e até simplória
por vezes perigosa, sim
mas na essência simples
como as mais difíceis e raras
flores

Precisa de uma palavra
Esta que esteve perdida
por tanto, há tanto
irremediavelmente perdida
vagando, zanzando
no ermo de dentro
e se agora ela se mostra
um pouco, culpa de quem
ora precisa e roga e quer
e fará bom uso dela
sei

Será sempre sua a palavra
lembre sempre
sempre que for possível
sempre que for preciso
preciso

se quer, apenas lembre
o passado, perceba
passa mas nunca se vai
ele pode deixar e deixa
coisas de todos os tipos
em seu rastro indelével
inevitável

Pode ser doce ou amargo
claro ou obscuro
óbvio e secreto
pode ser qualquer coisa
de acordo com os olhos
lágrima

Quem melhor olha e melhora
não olha só com os olhos
olhe

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Escrever junto


Aí sem aviso ela me convidou
queria escrever uma nova história
queria escrever a duas mãos e
queria que eu me juntasse a ela

Mas nossa história é antiga
cheia de linhas
cheia de entrelinhas
cheia de estrelinhas

Uma história nova é sempre possível
mas quero uma nova página no que já há
mas quero um renovo de sentimento
mas quero meu amor todo de volta

Com ela, talvez ela nem saiba
vou onde for
vou como for
vou como vim até agora

Não calei minha pena até hoje
não seria agora eu a deixar parar
não seria eu agora
não seria, mas sou

Eu te amei até hoje
Eu te amo hoje
Eu te amo
simplesmente

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Sinto


Sentimento é coisa que a gente não deveria julgar
coisa que a gente não deveria medir
nada para se comparar
nem pra se desculpar
somente respeitar
sentir

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Tento


Para além da ciência
ar em movimento, o vento
e a minha consciência

Razão da existência das asas
motor dos veleiros
motivo das velas
autor das ondas
origem das ressacas

Vive a farfalhar as folhas
e carregar poeira
Muito mais a bater as portas
e flutuar bandeiras

A sustentar pipas e sonhos
Levar balões e desejos

Meu vento, meu tempo
eu tento o vento

segunda-feira, 30 de abril de 2012

No alvo


E então é uma saudade como aquela do que se foi
porém esta saudade só encontra seu alvo
naquilo que ainda não houve

Saudade do que já não vi
Saudade do que já não vivi
e não é saudade então

É desejo

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Escrevi


Escrevi uma carta pra você
sem rascunho e
aí rasguei e
joguei no lixo.

Depois de algum tempo
voltei lá e
recolhi os pedaços
colei com fita adesiva e
li umas trezentas vezes.

Passei a limpo.
Revi e reescrevi
num papel amarelo.

Coloquei num envelope e
levei ao correio.
Comprei o selo, colei e
caprichei na letra desenhada no envelope.
Pensei em deixar sem remetente
não faria sentido algum e
aí relutei em postar.

Carreguei-a comigo
foram dias e dias assim.
Passava em frente à agencia dos correios
pensava em você.

Acabei por queimar a carta
sem pensar.

Estou pensando em escrevê-la novamente.
Ainda sei mensagem de cor
letra por letra
vírgula por vírgula
em cada exclamação.

Pensei em reescrevê-la
mas pensei em não fazê-lo e
posso não fazer nada também
mas depois de tanto que se passou
descobri que não sei
pra onde mandar a carta
não sei se você está aí pra ler
e nem se quer isso.

E de tempos em tempos
Faço tudo isso de novo e
sinto e vivo de novo
sentindo-me vivo

Pelo menos assim não deixo
de pensar em você e
em tudo que tenho
pra dizer e não disse.
Tanto, tanta coisa...
Assim não me esqueço de você e
vivo assim aqui e
pelo menos aqui assim
em mim você ainda vive.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

De tanto



Da vida com sua roda afiada
tocada pelo vento
soprado pelo tempo
e nada me sobra

Só vivo quando paro
falo com você e tremo
Deve ser paixão, parece
fico sem rumo, fico

É uma coisa que me
leva e me deixa leve
de repente tudo parece
fazer sentido, faz

E assim até esta vida besta
que levo longe de você
parece ter um porquê

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Meu desejo, meu sonho, minha oração

http://www.pressbook.com/loic-peoch/

Eu tinha uma porção de coisas pra te contar, um monte de inomináveis, inclassificáveis que nunca foram ouvidas por ouvidos humanos.
Mas ao que me parece agora nem eu estou preparado para dizer tudo, nem tão pouco você está preparado para ouvir.
São muitos sentimentos provenientes de experiências e reflexões minhas, coisas muito loucas e indigestas para se ouvir, especialmente se você está fundamentalmente envolvido.
O primeiro sentimento que tenho perante a esta situação profundamente incômoda é o de revolta, muita por sinal.
É uma dor autônoma que faz de mim o que quer.
Nesta hora tudo que é bom fica como que sugado, absorvido, neutralizado.
Impotência... Como se houvesse uma doença em mim contra a qual não disponho de remédio nem efetivo nem paliativo; é a dor, só a dor e a espera pelo fim.
Não quero isso pra mim, quero o simples, o básico, o padrão, o médio que é o que tem mais chance de vingar, trazendo o menor número de reações adversas.
Este é o meu desejo, meu sonho, minha oração.

segunda-feira, 26 de março de 2012

A saber, no fim



Quem é que sabe?
qual será o dia
mas haverá de chegar
quando será a hora
em que falarei e
contarei toda a verdade
coisas que nem mesmo sei

Falarei tudo o que há
e aquilo que houve

De cada pedra pontiaguda
que pisei descalso

Cada colina barrenta
que escalar de quatro
e as dunas de areia
muito quentes a fritar os pés

Vou contar da estrada
sem fim a tocar o firmamento
e da poeira na boca
estralando entre os dentes

Do vento a me levantar do chão
cortando-me com seu frio

Das madrugadas em claro
que me trouxeram até aqui
em seus detalhes, estes sim
portadores da verdade
de verdade na totalidade

Falarei das tardes multicores
de grama recém chovida
que davam a impressão
nada nunca estivera fora
do lugar, fresco tudo

E dos céus de estrelas
faladeiras... daquele vento
bondoso, fresco todo

Quem sabe assim
vai saber de mim

Mas certamente
tudo isso, só no fim

segunda-feira, 19 de março de 2012

Como fazem os pássaros




Queria eu só desejar poder me desvencilhar das amarras a que estou atado.

Acontece que o tempo é um velho marinheiro.

Ele que faz nós apertados como ninguém e utiliza cordas que, parece, resistem a tudo, inclusive ao próprio tempo.

Mas não quero manter-me cativo a isso, com esse carcereiro cruel a me vigiar.

Vou fechar meus olhos e me transformar em fumaça.

Vou pegar carona com o vento e sair das amarras, sair das grades, sair da cela.

Deixar tudo pra trás, amigo do vento vou voar, encontrar a paz e ser feliz no ar.

Como fazem os pássaros.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Promessas

http://www.andybarter.com/kiss.shtml

(19:32)
Ele pediu a ela que prometesse
naqueles momentos especiais
da magia singular que em
fumaça envolvia-os de
quando em quando:
- Não abra os olhos, se você abrir
mergulho neles e nunca mais volto.


(23:20)
Um rompante trouxe um pensamento
do qual teve muito medo.
Pensou que ele não existira e
que fora tudo fruto da imaginação.
Com isso ruiria o mundo em uma fenda
e talvez até mesmo
a razão maior se perdesse, então
ela pediu a ele que prometesse:
- Jura pra mim que você existe!

segunda-feira, 5 de março de 2012

Verdadeira Liberdade


Verdadeira liberdade é ser livre desdo o peito
e no vão entre o sim e o não
encostar uma cadeira de balanço
e encontrar uma janela por onde olhar

Verdadeira liberdade é encontrar em si
a si mesmo e alguém de que se goste
e falar ao ouvido coisas quentes
a rirem de si mesmos, inocentes

Verdadeira liberdade na verdade
liberdade nunca será de fato
quem sabe se houver um sonho certo
haverá lá o encontro entre verdade e liberdade

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Sou tudo isso

Sou uma farsa prestes a ser desvendada
Sou a tábua solta na escada
Sou o prego que insiste em não cravar e ainda entorta
Sou a bolha no calcanhar por um sapato novo
Sou pouca sorte no amor o azar no jogo
Sou a dobra no tapete
Sou também um pouco de uma dor sorridente
Sou as mentiras de que são feitas as verdades
Sou o vazio do tudo e o miolo do nada
Sou a saída e o beco fechado
Sou todo mundo e um monte de ninguéns
Sou o grito que escapa por entre os dentes serrados
Sou a lama na barra da calça limpa
Sou água quente no copo
Sou aquela coceira
Sou tudo o que te falta e aquilo que te basta

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Acordo


Acordou do sono que
trazia um sonho
desenhado numa folha de papel
com tinta de querer e
querer é tão pouco importante
que por vezes chega a
ser desimportante
E acontece simplesmente
de repente como espirro
como arrepio ou fome
ou sede, aquela

Não cabe, mesmo que nunca acabe
mesmo se eu não disser nada
vá às memórias e aos sonhos
está tudo lá

E aconteça o que aconteça
lembre-se, não se esqueça
E mesmo que descubra um segredo
não tenha medo
E se eu me afastar
ou se não puder falar
Na pior circunstância
seja qual for a distância

Sonhe seus sonhos com força
E terá força pra viver sua vida

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Pequeno manuscrito sem valor

Coisas são coisas
apenas, umas mais
outras menos
num dia de sol
ou na chuva
coisa que fica
coisa que muda
Satisfação?

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Bem mais



Nosso beijo é mais beijo
nosso abraço mais que abraço
e nosso carinho é mais do que amor

Uma arvore de vermelhos frutos
ilha de verdíssima grama
ao lado de águas calmas
de correntes caudalosas
em margens suaves
Somos juntos esta simplicidade

Nesta tarde de brisa fresca
a luz laranja banha tudo
o que desejei sem saber
testemunha do indecifrável

Maravilha da natureza
prodígio caprichoso na mistura
encaixando o que não combina
fazendo trabalhar o que não funciona
misturou água e óleo
sentou á mesa luz e trevas
tocou o firmamento com o fundo do mar

Contrariando a tudo
Surpreendendo a todos

Só para produzir neste encontro música
e um toque de lábios mais que beijo
abraços além dos braços
e um carinho de triplo amor

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Ela está


Mora em mim
não me deixa
segue me amando

Travestida de agitação
outras em fúria
do mundo a indignação

Diz querer-me bem
e que a habito
e moro em seu coração

E quer convencer
que seria melhor ceder
a esta que não se conforma

E parece morrer
de quando em quando
volta a me atormentar

Mostra quem é
mostra quem sou
assim sem disfarce

E chega como quem
vem de viagem
mas que nunca abandona

Reside mora vive
esta doce revolta
fiel companheira minha

Não surge apenas
apenas emerge assim
pela minha pele
pelo meu suor

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Despedida


E um aceno em adeus com lenço branco
Ainda assim ficarei mesmo quando for
aqui em meus versos pra não voltar
ficarei  assim pra quem quis a mim

E lá de longe hei então de ser
também o que se tanto quis
e ficarei de fato muito feliz
em atender expectativas
e aposentar frustrações

Eu picles no vinagre
de bons adjetivos

Quando lá só
assim no fim
serei bom
enfim
eu

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Aula


Ele me deu um dizer e
um empurrão que dizia;

Vai, meu filho não para
segue aqui

Não permita que venha
dúvida no seu comboio
bastante atenção na estrada e

Curta o vento e o horizonte em linha

por aqui neste verso, lembre-se sempre
E ainda me disse assim
Há tanto, mas vem fresco aqui;

Não duvide, ainda confie
e se for errar, sem medo
faça-o com certeza

Coloque a bailarina pra dançar
tocando a canção com força

De alguma forma
uma boa dose de convicção
pode acertar o erro no erro