segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Quem saberá?


Se no encontro
dum ouvido atento que entenda
a atenção devotada dará à luz
no casamento com o desejo de dizer
tudo o que pode ser dito
mesmo que este eleito como tudo
seja não mais do que quase nada
na imensidão do abismo sem nem eco

Encontra-se então a voz, o tom
os quês e os comos ligeiros
que não perdidos, foram-se escondidos
e hoje jazem no fundo do nada
à exemplo do que fez o eco

E o desejo e a saudade e o medo
e o Tempo, sempre ele
aos assuntos há tanto abandonados
gastos e dados por encerrados e
que no mar de tudo isso há muito
acabam por voltar à praia
oferendas enjeitadas
sujando as areias
atrapalhando o banho

E quem saberá de mim
e desta multidão de coisas
trazidas cá no peito
já cobertas pela poeira
duma esperança há muito
agradecidamente esquecida?

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