sábado, 31 de dezembro de 2011

Ser não sendo


Este perdido sentido de que seja ser
Em justificar-se por ser o que se é

Seja você mesmo em não ser sempre o mesmo
ou sim, o mesmo, único. E seja o que há em si para ser

Ao ser o que se explica sozinho
quem tiver que entender o fará

O autoexplicativo será a contraindicação
de uma vida honesta consigo mesmo

Moldura molde modo moda
Mude!

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

A noite e o beijo


A noite em que conversaram
riram e confessaram e
dançaram e ouviram
música de instrumentos

Refletiram e saudosos
beberam café e viveram outros
muitos vários anos
e foram felizes
num papo de graça
gratuito como a vida
que descobriram ainda viva

Rezaram juntos
num amém de mãos dadas

Naquela noite beijaram-se

O beijo disse a ele:
Tudo vai dar certo

Beijaram e o beijo e disse a ela:
Não disse que daria tudo certo?

E noite que se partiu
fazendo luz a lua que
então iluminasse tudo
e aquilo que há muito
havia desaparecido

E escolheu então vir
em arrepios e reapareceu
a noite em beijos

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Livro


Ontem
um livro me chegou
por acidente
Lá um monte de vida
Montes de coisas
minhas e sobre mim
sobre mim e sobre
aquele que mora
no espelho de sobra
Poesias unhas ossos
ventos sinos e a estrada
a estrada tudo difuso
que de areia sinto
digo e vivo ainda

Meus agradecimentos
aos poetas e suas musas

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Vai


Chama-se
Agora Mesmo
não manda recado
nem intimida-se
ou teme, nada
Ela simplesmente é
e acontece
Preparado ou não
a Vida... Aí vai ela
fruto maduro
um trator, um bebê

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Quero


Quero uma poesia correta
Profícua, precisa, honesta

Quero uma poesia suja
Maldita, devassa, doente

Quero uma poesia afiada
Estrídula, contundente, amarga

Quero queimada como
meu café

Quero doce como
meu dormir

Sossego fio de vida
Espelho d'água da alma

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

É você


Não demora muito mais
vou descobrir do que és feita
Que fio te tece
A linha que te costura
e em que tão leve
assim andas em desafio

E ensaias uma corrida
nas pontas dos pés
indo como quem tropeça
e tropeçando não cai, mas sobe...
Em provocação à primeira lei
Neste seu gume confortável

Teia, fiada, fieira
Quatro - linhas, equador
prumo, traço, raia
Guia, filete, digitais
Linhas de minhas palmas
Pauta, ferrovia

E quem sabe eu então
saiba que força é esta que
há tanto imprimes em mim
A verdade deste
magnetismo não-metálico
nunca experimentado

Neste meu apoio, direção
és prodigiosa na porfia
do desafio mais temível
e inescapável do homem
A própria Vida até
o seu fim mortal

Fez amizade com Deus
e assim podes ser e és
A fortaleza de cristal
na linha do meu horizonte
desfiado
afio

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Ser poeta


Terence Stamp

Não sou soldado
Sou poeta
Não uso fuzil
Atiro à caneta

Não sou cowboy
Sou poeta
Não vou à cavalo
Galopo versos

Não sou ator
Sou poeta
Não finjo
Eu minto

Não sou mágico
Sou poeta
Não há truques
coelhos da estrofe

Não sou filósofo
Sou poeta
Não penso, teorizo
Poetizo

Não sou inventor
Sou poeta
Não invento
Eu Sinto

Não sou juiz
Sou poeta
Não mando, assino
Olho e vejo

Não sou médico
Sou poeta
Não trato corpo
Zelo paixões

Não sou aviador
Sou poeta
Não voo
Eu voo

Não sou poeta
Sou poeta
Não faço
Sou feito