quinta-feira, 14 de julho de 2016

Culpa


das cervejas que não tomei
os livros todos que não li
dos horários que não perdi
dos foda-se que não mandei
exposições que não visitei
do perdão que eu não dei
e os vinhos que não provei
do beijo que te não roubei
chuva em que não me molhei
dos filmes que não assisti
das viagens que eu não fiz
da brisa que não senti
momentos em que não me doei
dos amanheceres que não vi

dos adeus que eram simples até-logos
culpa das paixões e da cegueira
do pores-do-sol, também eles
e hoje há de novo um daqueles
da esperança renovada grilhão
da mentira, da verdade
da ilusão e da realidade principalmente
do modo como nosso olhos veem

e o medo, o ele tem tanta culpa
culpa pela liberdade que toma
e pela intimidade que temos

dos olhares a que me neguei
os amores todos por que passei
das amizades
e dos pedidos que engoli

daquilo tudo que não falei e hoje que me dói tanto
e que dito agora não faria qualquer sentido

e nada mais faz sentido
nem mesmo a própria culpa

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