domingo, 1 de novembro de 2009

Um tempo

Existe um tempo que não está no calendário e nem se conta no relógio.

Não é feito de papel, de pedra ou de bits, não se alinha, não se divide nem mesmo numa divisão didática.

Este tempo não se pode conhecer, entender ou planejar.

Um tempo que não se submete à história ou estória, tampouco à geopolítica. Nem a poderosa matemática pode com ele.

Não se esquematisa e nem se agenda.
É um tempo transgressor. Nem passado, nem futuro e quem pensa que é o presente se engana. Estas divisões não o garantem, não o classificam e nem mesmo o conhecem.

É fumaça, é vapor. Sólido como aço e frágil como um castelo de cartas.
Este é o tempo, o único tempo no qual de fato está contida a vida.
O único verbo que o alcança é o verbo viver. Divino verbo viver.
Este tempo tem um nome, chama-se Enquanto Isso.

O Enquanto Isso é soberano, ele é o mais atuante e o menos conhecido, o mais eficaz e o menos utilizado.
Importante mas nunca urgente. É gentil, nunca se impõe.

Pode ficar alí esperando sua vez.
Esperando até quando eu ficar maior de idade, até arrumar uma namorada, até que o tratamento acabe, pode esperar aquela promoção que vem com aquele aumento de salario ou até que possa arrumar um emprego melhor. Fica esperando as crianças cresceram, o fim do mês chegar, o tempo melhorar, a crise passar. Espera pelo dolar baixar ou até eu terminar a faculdade, espera você acertar no bicho, espera sobrar tempo, sobrar dinheiro, sobrar paciência. Espera até mesmo você aprender, mesmo que nunca aprenda.

O Enquanto Isso é capaz de esperar tantas quantas coisas urgentes você colocar à frente dele, sem reclamar.
Enquanto Isso a vida...
Tudo bem, tanta coisa vai acontecer, e logo, mas e Enquanto Isso, o que acontece? O que é que a gente faz enquanto nada disso acontece?!

– A gente vive! Vive apesar de tudo! Vive apesar e com tudo isso.
Ser feliz na espera é viver o Enquanto Isso.

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