quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Coisas sem lar


Sempre há alguma coisa sem casa
Coisa que a gente não vê
Alguma outra que a gente não sente
Coisas são coisas, assim mesmo

Umas mais e outras menos
Num dia de sol ou na chuva
Coisa que fica e coisa que muda!
Cada uma destas coisas todas

E amiúde e no detalhe
A cada diferença que fazem
E a cada momento que marcam
Um gosto bom que deixam

A vontade de querer mais
Saber onde é que moram
Pra onde é que vão e vagam
E de onde vem, sempre vem

Não dá pra entender algumas
Outras conhecemos, ou quase
Tem sempre coisas que a gente vê
Uma ou outra que se sente

sábado, 20 de agosto de 2011

Canção das bordas

Existe dentro de si
Num desconhecido enorme
Profundíssimo escuro
Abismo d'alma

Sem sondas que explorem
Nem com precisão
Nem em partes
Se é tão fundo grotão!

Quem o sabe em detalhes
É o nada ou Deus
Dele mesmo desvendou
Nem às bordas permitiu

Ouviu-se falar
Falar e velar
O fadigoso falar
O inútil dizer

Fenda que esconde
Esconde a tudo
E guarda no ermo
No ébano que o rodeia

Precipício onde se precipitam
A Morte e a Vida incontidas
Onde moram todas as raízes
E as raízes dos olhos e ouvidos

Depois de sentidos
É pra lá que vão
Repousar aqueles sentimentos
E renascem em vão

Somente quando completo
É capaz de, pelo menos
Imaginar num borrão
O que há pra lá do meio

E lança-se qual sonda
Qual espírito pairante
Sobre as águas então
Sorve todas as mágoas

E é feliz em descobrir-se
Em descobrir e abrir
E saber dessa profundez
À deriva no acaso

O tamanho a cor
E a beleza de querer

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Eu sim, assim


Sei lá
Não sei de mais nada
Nunca soube
Quis enganar-me
Por um tempo funcionou
Mas não convence mais

Quis ter o controle
Mas de fato
Nunca houve alguém
Que controlasse
Que contivesse
Que entendesse

Ninguém que pudesse

Estou no controle
De um carro
Em pleno capotamento

Estou no controle
De uma flecha
Que acaba de deixar o arco

Estou no controle
De uma nuvem
Levada pelo vento

Estou no controle
Da água
Que desce em enxurrada

Estou no controle
Da hora
Em que o sol de põe

Estou no controle
No controle dos vulcões
E de todas as chuvas

No controle do crescimento da grama
No comando da direção do vento
E do amor

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Felicidade Nuvem e Montanha

Olha só o tamanho da minha felicidade
Vê só o tamanho daquela montanha
Aquela nuvem alta como o que!
Grande, grande vê?
Quanta felicidade, contentamento
Pode espantar-se
Como é grande!
Ah, que satisfação...

Então a nuvem alta e grande
Com o vento parece estar ali
Parada, grande, sólida
E vai indo e leva consigo tudo isso
Viu só como é grande?

A minha felicidade
Explode como vulcão dormido
Dentro da montanha grande
E no final não sobra nada ali
Nem montanha nem nada

Viu só? Que tamanho tamanho?!
Essa minha felicidade
Que alegria tamanha!

Basta olhar para que se veja
A montanha, a nuvem, a felicidade
Isso tudo e tudo isso que há
E cada adjetivo parece estar ali

Não há felicidade nem minha nem outra
Sem a iminência do vento e da explosão
Que orgulho!

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

O meu, todo o meu


Gastei o meu amor
Pelo visto todo ele
Parece que desapareceu
Sei que ele está lá
Deve estar, não sei

Não o vejo mais
Não o sinto mais

Não tem mais a textura
Outrora teve uma muito leve
Hoje liso, sem motivo

Gastei-o todo

Em temperatura ambiente
Nem faz diferença nem avença
Nem que queira

Num compasso de não querer
Descompassado passo a passo
Nesse tempo todo passado
Achei que era pra sempre

Não sabia que era assim
Que gastava de tanto sentir

E eu senti tanto o meu amor!

Por tanto tempo
Com tanta força
Que acabou, gastou

Mas eu não sabia
Haveria de ter feito economia

Como um copo de refrigerante
Que se acaba pelo canudo
Como uma nuvem ligeira
Que se acaba com o vento?

Mas sei que está lá
Quero que esteja, não?
Não é possível!
Mas se está
Porque não o vejo?
Porque não o sinto?
Porque não?

Hoje não sei mesmo
Nem de onde veio
Nem pra onde foi

Gasto, gastou
E o que hoje sinto
Do meu amor só
É a sua falta