sábado, 20 de agosto de 2011

Canção das bordas

Existe dentro de si
Num desconhecido enorme
Profundíssimo escuro
Abismo d'alma

Sem sondas que explorem
Nem com precisão
Nem em partes
Se é tão fundo grotão!

Quem o sabe em detalhes
É o nada ou Deus
Dele mesmo desvendou
Nem às bordas permitiu

Ouviu-se falar
Falar e velar
O fadigoso falar
O inútil dizer

Fenda que esconde
Esconde a tudo
E guarda no ermo
No ébano que o rodeia

Precipício onde se precipitam
A Morte e a Vida incontidas
Onde moram todas as raízes
E as raízes dos olhos e ouvidos

Depois de sentidos
É pra lá que vão
Repousar aqueles sentimentos
E renascem em vão

Somente quando completo
É capaz de, pelo menos
Imaginar num borrão
O que há pra lá do meio

E lança-se qual sonda
Qual espírito pairante
Sobre as águas então
Sorve todas as mágoas

E é feliz em descobrir-se
Em descobrir e abrir
E saber dessa profundez
À deriva no acaso

O tamanho a cor
E a beleza de querer

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