Imaginei, enquanto te olhava
ali deitada na folha antes de existir
como quem cochila desapercebida
descuidada de tudo, alheia ao tempo ou vento ou sol
pra que é que servia
Esta infinita demanda minha de encontrar
porquês, comos, quens e ondes
atrevi-me a encontrar em ti utilidade, nem sei pra quê
mas tentei, perdoe!
Quem sabe seja isso mesmo
você me sirva para tirar o foco
ou pra, quem sabe, ajusta-lo apenas
ou ainda sirva para nada
A roda viva dessa vida não permite o nada pelo nada
Afinal o nada tem que trazer em si um bom motivo
e quem sabe você tenha em si o nada
justificado de alguma forma mágica
Mas esta busca não é justa
Utilidade para algo tão nobre
que se justifica apenas por existir
especialmente para mim
que te tenho em tão alta conta...
Hoje neste incrível mundo
construído escrevendo juntos
vejo o quanto preciso
Por muito só teus pés quebrados
foram meus pés sem rimas
minhas únicas pernas minhas únicas asas
meu divã em desequilíbrio
desequilibrado, desequilibrando assim...
Submarino que me dá o fundo de mim
Minha folha & minha pena, poesia.