quarta-feira, 24 de abril de 2013

Mimese

Jorge Mestre Simão
Mania minha
viver imitando
imito a vida
e sigo simulando

Se minha sina
consumir a vida
minha vida essa
terá sido
imitar a vida
sendo como se
fosse viva
a vida em poesia

Fazendo parecer
ser vida mesmo
vivida em verso
de tudo isso
imitada em reverso
ou vice-versa
ou nada disso

Vivo a própria
imitação de ser
quem não se é
havendo assim
o que não há

Saindo sem saída
se essa for
pois minha vida
terá sido então
muito bem vivida
em Verso e Poesia
por que não?

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Avulsas



São o escafandro e o fundo do oceano
as asas e o céu e o vento

Entidades que ora morrem ora assumem vida
fundamentais superfluidades

Organizando-se em um leve desalinho
vindo como quem se vai, desafiando
delimitando limites desconhecidos

Covardes corajosas ambiciosas medíocres
Aproveitam-se da velocidade para terem sorte
Minhas, minhas minas, minhas pepitas

Culpadas por tudo
são apenas espelhos
Muito antes de que eu me desse conta
elas já estavam lá
pululando no peito cá
na cabeça em mim em tudo

Não escondi nada, é tudo público
bastava ter olhado
ouvido, sentido, esperado pra ver

Mas aprendi que elas existem
é com isso que devo contentar-me

Vapor enfim, nada mais
Palavras e o ponto-final

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Submarino



Imaginei, enquanto te olhava
ali deitada na folha antes de existir
como quem cochila desapercebida
descuidada de tudo, alheia ao tempo ou vento ou sol
pra que é que servia

Esta infinita demanda minha de encontrar
porquês, comos, quens e ondes
atrevi-me a encontrar em ti utilidade, nem sei pra quê
mas tentei, perdoe!

Quem sabe seja isso mesmo
você me sirva para tirar o foco
ou pra, quem sabe, ajusta-lo apenas
ou ainda sirva para nada

A roda viva dessa vida não permite o nada pelo nada
Afinal o nada tem que trazer em si um bom motivo
e quem sabe você tenha em si o nada
justificado de alguma forma mágica

Mas esta busca não é justa
Utilidade para algo tão nobre
que se justifica apenas por existir
especialmente para mim
que te tenho em tão alta conta...

Hoje neste incrível mundo
construído escrevendo juntos
vejo o quanto preciso

Por muito só teus pés quebrados
foram meus pés sem rimas
minhas únicas pernas minhas únicas asas
meu divã em desequilíbrio
desequilibrado, desequilibrando assim...

Submarino que me dá o fundo de mim
Minha folha & minha pena, poesia.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Busca perfeita busca


Behind Glass - Ralf Graef
A ânsia mais natural
é produzir a obra da Vida
de uma só vez fazer surgir
o que não foi jamais

Pensar forjando em letras
o pensamento definitivo
a ferramenta fundamental
a obra prima máxima

Em síntese a beleza última
sumário da profundidade irrevogável
Promover do espírito, alma e corpo
o encontro decisivo

O fim, o encontrar daquilo
em que a busca encontraria termo
e dormiria inocente
com o sentimento de dever cumprido...
A busca não dorme e nunca é inocente!

Gênios são assim classificados
na busca e jamais no encontro
São o que são na construção
e não no arremate
Geniais pela possibilidade aberta
de serem ainda mais geniais e de novo
e não na porta fechada
na questão respondida

- Não precisamos resolver nada.

O segredo então, quem sabe
esteja na perfeição da busca
no caminho, no processo, no trabalho
e não no perfeito, no acabado, no entregue

Não sou genial e passo longe da perfeição
não há quem seja gênio ou perfeito vivo
Vivo em busca, tentando
Testando, tateando meus escuros
buscando achar pra não encontrar, assim.