sexta-feira, 23 de dezembro de 2005

Fechamento

Pois bem crianças, mais um ano passou e as festas estão aí pelo meio. Não pude produzir nada além deste singelíssimo texto de agradecimento e de reconhecimento por toda generosidade de que foi alvo por parte de meus colegas de bordo assim como nossos importantíssimos, ilustríssimos e inteligentíssimos visitantes comentaristas ou não (superlativos à vontade nesta hora da festa e de emoção).


E aquilo tudo que se deseja nesta época do ano eu desejo a vocês, espero tê-los todos o ano que vem, presentes e ativos nos comentários, fazendo um simplicíssimo muito melhor.


Um braço a todos. Muito obrigado


M.

terça-feira, 20 de dezembro de 2005

Poeta de boné xadrez.

Tinha reservado um tema especial para este texto que considero especial. A coroação da sorte que beneficia aos bem preparados, ou aos insistentes como eu, mas nem tudo se pode controlar...

Andava meio perdido por ruas do bairro de Pinheiros, aqui em São Paulo, sabe quando você marca um encontro e chega bem antes ao local marcado, e para não ficar esperando sentado você vai dar uma volta? Então, fazia isto, ia para uma grande loja de livros, CDs, e eletrônicos que há perto dali. Bem ao lado da porta de tal loja, estava um rapaz franzino, baixinho, aparentando uns vinte e três anos de idade e usando um boné xadrez:

- Olá brasileiro, ele me abordou com alguns livros nas mãos. Posso lhe oferecer cultura?

- Sim, eu disse a ele parando para ouvir o que tinha a dizer.

- Este livro é obra minha, independente, dê uma olhada.

Era um livro fino e com uma capa simples, peguei livro das mãos dele e veio junto uma recomendação:

- Abra na página doze, esta é boa para os dias em que vivemos hoje!

Para minha surpresa era um livro de poesias, li e vi que eram versos decassílabos, um soneto falando da correria do dia-a-dia, parei por um segundo e pensei que a indicação que me fizera era por conta da gravata que eu usava, pois bem, correria por correria, li rapidamente duas vezes e gostei.

- Escuta meu jovem, você tem sorte e azar, sorte, pois gosto de poesia, e azar porque não tenho dinheiro algum.

- Não tem problema, já estou acostumado.

- Parabéns pela iniciativa, é tudo por sua conta?

- Sim. Autoria, diagramação, produção, impressão, editoração e vendas...

- E por que em versos fechados?

- Na verdade tem de tudo aí, este capítulo é só de sonetos, mais adiante, veja, tem versos alexandrinos e lá no fim, versos livres...

- Puxa! Isso é raro. Mas e aí, qual é o mote? Por que escreve?

- São tantos os motivos, mas neste livro o que mais está presente é a chamada de atenção que tento fazer para quem não pára, para o humano, aparentemente nenhuma novidade.

- É, lembro da história do velho que fazia um discurso inflamado de cima de uma caixa, no centro da praça de uma cidade do interior, ele pedia a mudança de pensamento do povo, que solenemente ignorava. Depois de trinta anos ele continuava lá, com o mesmo discurso. Perguntado por que não parava, ele disse que se parasse o povo o teria mudado, e ele lutava exatamente para mudar o povo.

- É isso! Parece esta sina do poeta, é muito difícil, mas...

- Também escrevo, não assim como você, luto contra a correria, toma aqui um cartão meu, me manda um e-mail, qualquer coisa, vamos trocar mensagens, idéias.

- Ah, pode deixar.

- Escreva qualquer coisa, nem que seja só um oi para que eu tenha seu endereço, a daí eu mando uma provocação.

- Pensei nas cartas dos modernistas.

- Não tenho tantas expectativas, mas não deixe de mandar uma mensagem quando puder.

- Fique tranqüilo, pode deixar comigo!

- Ah, e quanto custa? Só pra eu saber.

- Quinze Reais.

Até agora não recebi mensagem alguma, deve ser porque ele está em uma correria danada e não tem sobrado tempo para nada!

Estes têm sido nossos dias, comendo pelas pernas até mesmo os jovens visionários poetas de boné xadrez.

Retiro-me

Prezados amigos,

Foi um grande prazer conviver com todos você, e durante todo este tempo que nos conhecemos e fazer um das coisas mais prazerosas da vida de um brasileiro: Discutir futebol. Realmente foi de grande valia para mim, como amante deste esporte, compartilhar do conhecimento, opinião, paixão e até mesmo das insanidades dos caros amigos deste seleto grupo.
Mas como todo ciclo um dia se fecha, este chegou ao seu final. Retiro-me de todas e quaisquer discussões futebolísticas daqui a até pelos próximos 10 anos. Acontece quando chegamos a certo nível de excelência, somos obrigados a nos conscientizar de que não podemos continuar a fazer o que antes fazíamos, por isso tomo tal posicionamento, e quem sabe até 2016 os demais times brasileiros cheguem a um patamar que permita o embate de idéias com os torcedores do glorioso tricolor do Morumbi, o SÃO PAULO FUTEBOL CLUBE.
Agradeço muito a todos, e neste momento de despedida peço desculpas por qualquer humilhação, raiva, ou contrariedade que fiz com que os amigos, torcedores de clubes comuns do Brasil e do mundo, passassem.
Como São Paulino feliz e satisfeito torcedor do clube mais vitorioso do país do futebol, e portanto superior por natureza, aceno com um último salve que pode ser de qualquer parte do mundo, pois afinal estamos em toda parte do planeta, resignado e agradecido, retiro-me.


Humildemente,

M.

terça-feira, 13 de dezembro de 2005

Noite em claro.

Quando amanheceu o suor que molhava minhas roupas já havia secado e a lama, descascante, fazia minha pele coçar, meus cabelos negros eram castanhos-duros.

Àquela altura já não suportava a fome, mas o que mais incomodava de fato era a sede, eu poderia sentir o dobro daquela dor que sentia por um simples copo de água.

O desconforto dos pés descalços... Eu já imaginava o sofrimento que viria ao decorrer do dia, quando aqueles cascalhos que cobriam a estrada chegassem ao meio dia. A caminhada de volta não poderia durar muito mais.

Uma noite interminável confusa e cheia de lances que até agora não entendi. Parece que quando cheguei bem no início da tarde, eles já estavam à minha espera. Foi muita sorte minha, eu o detraído, ter percebido algo de errado assim que parei na entrada da garagem.

Pularam sobre o carro, eram vários, de todas as cores, com vários tipos diferentes de armas, uma verdadeira loucura, ficaram como carro, eu não sei como, fugi correndo, e parece que já haviam tomado a casa.

Fui perseguido, embrenhei-me no mato, o lamaçal engoliu meus sapatos, eles atiravam, as balas zuniam aos ouvidos. Não sei por quanto tempo os mantive longe, cansei-me, vários também cansados pararam, mas havia três, magros, altos, pretos e muito fortes que pareciam não se cansar nunca! Num tropeço caí, eles me cobriam pulando por cima de mim, tentavam me imobilizar, eram cordas e algemas, e eu de socos e mordidas.

Nunca fui esportista, atleta, ou mesmo forte, mas percebi que ali estava em jogo a minha vida, não sabia o porquê, mas sabia que aquela luta valia minha vida. Rolamos ali por bastante tempo, não sei o quanto, sei que foi muito.

Na briga quase morri, fui ferido na cabeça, no ombro, minha mão, quadril, minha coxa, meus braços pesados, um de meus algozes sumiu, fugiu, feriu-se não sei! Combati e fugi dos outros dois, eles falavam durante a perseguição e diziam um para o outro que não deviam mais me machucar, e que já pagariam caro pelo sangue que eu vertia, já me consideravam pego!

Jamais imaginei tamanho vigor em minhas pernas e braços, minha cabeça rodava no eixo do pescoço buscando um esconderijo, parecia impossível esconder-se apesar da mata fechada. Na correria cansada caí entre alguns arbustos, fiquei parado e a mata era molhada, galhosa, escondi-me ali, parado, com medo parado.

Ficaram à minha espreita, procuravam, diziam que eu não poderia ter ido muito longe, quando pude, subi em uma árvore, e passei para uma outra ao lado. Esperei e desci devagar ouvindo os soldados, quieto fugi das vozes.

Andei a outra metade da noite, saí em uma estrada do outro lado da mata, cascalho frio aos pés já não agüentava mais, nem sinal dos soldados pretos, então amanheceu.

Em meio a estas lembranças avisto minha casa. Ao contrário do que eu imaginei está intacta, temo um outro ataque surpresa, espiei por algum tempo sem chegar perto, portas e janelas do mesmo jeito que deixei na manhã de ontem: fechadas.

Assustado olho ao redor, de meu carro só os cacos dos vidro, e um rastro apressado para o além.

Em meus bolsos não tenho nada, a chave reserva da casa ainda está debaixo do vaso sem flores no quintal dos fundos. Com cuidado entro em casa, a dor, o sono, a fome, o frio, a sede e o medo acompanham-me e para mim nunca mais serão os mesmos depois desta noite de intimidade.

Chegando ao quarto estou eu, suando e rolando na cama, é um pesadelo. Paro, olho, não entendo, estou ali, e quando acordo e me olho no olho, desapareço.

terça-feira, 6 de dezembro de 2005

Amor & Ódio Amor

- você garantiu que me amava!
- não me cobre tanto assim, você sabe das minhas falhas.
- e te amo, o que podemos fazer para remediar isto? 
- já está remediado, afinal o que não tem remédio...
- mas não posso acreditar... você sabe que nunca te cobrei...
- é verdade...
-... então, mas e as promessas que me fez?
- não menti.
- aquilo tudo que me prometeu? onde foi parar?
- aquilo era verdade pra mim também!
- o que houve? não entendo!
- não chore, vá piorar o que já é difícil!
- não, não vai me deixar aqui assim... não vou deixar.
- acalme-se.
- existe outro alguém? não importa, não vou ficar assim.
- não há ninguém. acalme-se, pare de gritar, o que é isso?
(surge uma tesoura da gaveta da mesinha de cabeceira)
- não vai ficar assim, já disse. me perdoe te amo.
- acalme-se e pare com isso, par...
(enterra-lhe a tesoura na barriga).