segunda-feira, 25 de dezembro de 2006

Um Réveillon


Ciclos sempre feitos
Alimentam nossas esperanças
Querem manter o queixo pesado apontando para o horizonte
O mais longínquo e mais atraente

O ferrolho do mês é feito de bronze
O cadeado do ano é de prata
A fechadura de uma década é puro ouro
Valores meticulosos fixados pelo mercado

É o capítulo que fica atrás
A página que jamais volta
Contar o passar do tempo
Criação cruel do homem

Coisa mais clichê!

Suas rápidas e afiadas divisões
Engrenagens assassinas se você pára no caminho
Segundo encaixa-se no minuto
Minuto que trabalha com a hora

Hora rodando junto com o dia
Dia e mês sempre bem azeitados
Mês que faz andar o ano
Este esquema infalível é até bonito

Quando não fizermos tal diferenciação
O dia primeiro será janeiro
Cada janeiro será o ano zero
O fôlego de renovo deixará o queixo leve e aprumado

Mas os eixos fora de centro
Fazem variar de modo que não dá pra acompanhar
Não nos permite entender ou acostumar
Sempre esmagam pés e cabeças

Aqueles que se acham adaptados
Trazem o marechal no pulso e o coronel na carteira

segunda-feira, 18 de dezembro de 2006

Andando no telhado

Andando no telhado dos meus pensamentos
Pude avistar algo que não se vê do chão
Um bando de gralhas afinadas que voam juntas
Elas têm as pernas longas e as asas curtas

Suas penas têm a cor do sol
Os bicos e pés vermelhos como o sangue
Seu vôo parece impossível mesmo voando
Caminham leves como eu deveria fazer cá de cima

Meu maior medo é não poder ficar e ver a beleza
Ouvindo o cantar afinado, bálsamo aos ouvidos feridos
Sob meus pés queima o telhado quente ao sol
E por baixo do telhado você sua

segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

Missivas aladas

Escrevi missivas encomendadas
Palavras de depois da chuva
Cheirando a sei-lá-o-que de carinho
Dignas das vitrines mais enfeitadas

Caprichosamente polidas, escolhidas luvas
São o alento do que poderia
Não é, mas poderia
Pequenas são pedras pequenas

Pedras constroem castelos

Pequena missiva já miúda
De encomenda
Desimportante pela pena de quem escreve
Importante pela bagagem às costas

Quem sabe revelem
Algo que diga definitivamente
Não há nada encoberto
Nada a descobrir, nada à sombra.

Podem me dizer e não a ti
Pelo ponto de vista
Podem lhe dizer e não a mim
Pelo ponto de vida

Quem se reserve
Ocupação de quem não tem
Nada há fazer
Já é tudo feito

Quando chegar lá lembre de mim