domingo, 29 de maio de 2011

Rascunhos Originais



Fazia tempo eu não me metia a organizar caixas livros e papéis, antes tivesse ficado no sofá abraçado com ele em minha solidão de um silencio só quebrado pela televisão.

Revirando coisas velhas já presenteadas pela poeira dos esquecidos, encontrei um maço de papéis amarelados amarrado com uma fita de veludo, pareciam ser cartas escritas com o que costumava ser a minha letra.

Incauto, desfiz o laço de fita azul, coisa que jamais faria se desconfiasse o tamanho daquilo que tinha em minhas mãos naquele instante.

Sentei-me no tapete, espalhei as folhas, lembrei-me brevemente do dia em que havia
feito tal maço e começou ali o que me consome até agora.

Tudo aquilo que hoje faz parte dos ignorados pela memória do faminto dia-a-dia que nos traga a todos todo dia, aquilo que escolhi num passado não tão distante sepultar, me vem como uma garrafa devolvida pelo mar. Como uma incômoda barata que entra voando pela janela de uma noite quente.

Memórias são coisas que por mais incômodas que nos sejam, trazemos conosco da forma mais confortável possível, a gente escolhe um canto na mochila de modo que não nos cutuque as costas e leva, leva a vida, é assim.

E lá dentro sofrem conosco as intempéries todas de quem escolhe sair na chuva, ficam num fundo quase se privilegiando do esquecimento, sofrem distorções em contato com novas experiências e acabam por se transformar e mudar, mesmo que seja só impressão nossa.

Mas isso é como um soco no nariz, ali deitado em cada folha amarelada estava eu mesmo, inteiro em idéias e sentimentos, sem os óculos do tempo.

Todas eram rascunhos originais de coisas escritas pra você. Papéis decorados, canetas coloridas, mensagens cruas de alguém que já morreu. Impossível não perceber a maneira de lutar de quem não se defende nunca e por isso morreu tão cedo.

Algumas eram respostas ao que agradeço por não me lembrar.

Voltei a sentir sabores e cheiros que há muito tempo, pelo menos em minha memória sem data, não sentia.

– Doce no início, amargo no final.

E ali no tapete espalhados toda sorte de emoções e sentimentos que são de conhecimento do homem e mais uma porção de outros ainda não documentados pela ciência em todo tipo de combinações. A experiência chegou ao nível extracorpóreo por pelo menos três segundos.

Ventania, tempestade, ressaca, frio congelante, calor sufocante, fui e vim de todos extremos humanos ou não ao ver seu rosto num susto entre as linhas de amor e confiança que eu lhe endereçava, tudo ao mesmo tempo.

Resolvi tudo com um saco preto, uma lata de lixo, uma caixa de fósforos e toda dor do mundo! Mesmo assim isso aqui ainda me consome.

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