sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Asas, ventos, o tempo e as estrelas



Suas asas são não ter asas
E o céu e as estradas
As estrelas e toda a história
Tanto o aprendizado
Quanto o que se perdeu
E aquilo que é bonito
As coisas que ignoramos
E que falam fundo ainda e sempre

São móveis na sala de estar
Dos sentimentos em sua casa
Hoje eu vim pra cá
Com a cabeça cheia de versos
Mas no caminho perverso
O vento fez muita coisa voar
E tudo isso se perdeu
Mesmo assim a sargeta
Veio até aqui oferecer
As coisas que ontem
O vento trouxe pra alguém
Que as deixou e eu recolhi
As coisas que o vento trouxe
Muito vento muita coisa
As coisas que o vento trouxe
No final a enxurrada leva

Se a vida preencheria a vida
De quem sabe desse
Formidável rascunho!
Este vou entregar
Como quem entrega algo bom
Alguém que estaria satisfeito
Por tão, tão pouco

Vou dar como que dá
O último suspiro
A última palavra
O último olhar
Não há última, não há último

Com os olhos e uma
Única lágrima grossa que
Após uma corrida pelo rosto
Suicida-se saltando do queixo

O brilho que isso produz
Acaba ofuscando o que realmente
Importa, se é que importa
E na morte, no ocaso
Nada realmente tem importância
Basta que organize-se
Em ordem alfabética

Mas aprender não é meu forte
E ficar livre minha alma
Até agora não soube
Como não soube aprender
Só consegui, também até agora
Uma linda coleção de calos
E toda esta confusão...

Sabe ele, mudo
Meu travesseiro velho
E o assento estofado em veludo vermelho
E quem mais pode saber agora?
Depois de tudo isso e toda dor
Queira então, sem escolha, voar

Num céu de estrelas
Num chão de estradas
De um não ter asas
Não ter asas

Ziguezaguear de flor e flor
Dos jardins do meu pós chuva
Com ou sem o arco de flechas
Coloridas mensageiras
As suas felicidades passageiras

E o tempo
Esse déspota excêntrico
Desgrenhado pelo vento
E o leve vento que me leva
Ás turbulências de todo calibre
Teria eu enfim no fim mais sorte?

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