segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Respeitável público (A platéia atônita)

Homens de negócios
Sentimentaloides chorosos
Malandros
Generalistas inveterados
Motoristas em geral.
Os pingentes da Central
Poetas apaixonados
E a Vida
Policial de trânsito
Pré românticos
Esquerdistas xiitas
Roqueiros ensebados
Donas de casa dedicadas.
A ligação que cai
Craques de dominó.
O gol impedido
Militantes não praticantes
O bandido.
O cavalo do bandido.
Presidente e seu vice
Tudo o que se disse.
O joia à beira da estrada
Ex futura esposa
Crítica de arte aposentada
Estilista de chita.
Os pipoqueiros
Cada garçom amigo
e o dono do botequim.
Noivas atrasadas
O centro da cidade
Crianças barulhentas
Promessas esquecidas
Todos os 'sem-quer'.
Aquilo que não fez sentido
E eu
E Você.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

E me transborda


O peito que fala
ao ouvido surdo que 'ouve'
e cala que só a boca
neste sentir todo
transbordando seu não caber
a escorrer pelas sarjetas
incautas sortudas

E vai e volta se voltar
volta quando couber
se um dia couber, um dia frio
que faça com que caiba de volta
às não mais suas bordas
que não suportaram, não sei
se suporte darão

Arriscado ficar onde está
nesta borda que transborda
que transforma que transporta
e transgride agride

E falando falando palavras palavras
palavras com que pudesse preencher
em quantidade o que a pouca efetividade
dessas palavras não fizeram
palavras palavras sem fio
palavras sem pontas, cegas
por verem o quanto falam
desde este peito
até aquele ouvido surdo
O quê dizer?
Pra quê falar mais então?

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Quem saberá?


Se no encontro
dum ouvido atento que entenda
a atenção devotada dará à luz
no casamento com o desejo de dizer
tudo o que pode ser dito
mesmo que este eleito como tudo
seja não mais do que quase nada
na imensidão do abismo sem nem eco

Encontra-se então a voz, o tom
os quês e os comos ligeiros
que não perdidos, foram-se escondidos
e hoje jazem no fundo do nada
à exemplo do que fez o eco

E o desejo e a saudade e o medo
e o Tempo, sempre ele
aos assuntos há tanto abandonados
gastos e dados por encerrados e
que no mar de tudo isso há muito
acabam por voltar à praia
oferendas enjeitadas
sujando as areias
atrapalhando o banho

E quem saberá de mim
e desta multidão de coisas
trazidas cá no peito
já cobertas pela poeira
duma esperança há muito
agradecidamente esquecida?

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Não aguentar mais


Ir além e mais e mais
ainda que sem suportar
trouxe-nos aqui este
continuar quando muito nobre
já seria desistir ali mesmo
Demanda assumida por quem sabe
que apenas saber não basta e
que bastasse um nada
para que pudesse suportar tudo
e de novo e mais e além

Os mais corajosos ou estúpidos (à conferir)
e que tem em si
o poder de escolher
trilhar todo o pior
caminho, sem atalho
sem ajuda, sem mapa
sem luz e quase toda
a esperança de que se pôde

Mas o limite será o fôlego
o limite seria o corpo
o limite é a vida
e aquilo que a mais poderosa
luz jamais iluminaria!
Quando ele chega, pra quê negar?
- E fim.