terça-feira, 31 de maio de 2011

As Tuas Asas


Não precisa de asas
Se o céu é todo seu
Tampouco de rodas
Tendo todas as estradas
Estrelas esticadas

Pra que âncoras enfim?
É sem freios de fábrica
Imaginação motor-motivo somente
Paixão te transborda o tanque

Quer versos e um canto
Quer as velas e os ventos
Nada de compromisso
A não ser com o querer
Pensar apenas no encaixe
Do bilboquê da vida

Uma roupa bem clara e solta
Na cabeça um lenço só
No rosto o ar leve da brisa fresca
O campo dourado da tarde laranja
Num confortável dia de semana

Viver assim acontece
No anseio da liberdade
De uma vida simples
Sem vidros ou tapetes

Pés no teu chão
Cabeça no teu céu

domingo, 29 de maio de 2011

Rascunhos Originais



Fazia tempo eu não me metia a organizar caixas livros e papéis, antes tivesse ficado no sofá abraçado com ele em minha solidão de um silencio só quebrado pela televisão.

Revirando coisas velhas já presenteadas pela poeira dos esquecidos, encontrei um maço de papéis amarelados amarrado com uma fita de veludo, pareciam ser cartas escritas com o que costumava ser a minha letra.

Incauto, desfiz o laço de fita azul, coisa que jamais faria se desconfiasse o tamanho daquilo que tinha em minhas mãos naquele instante.

Sentei-me no tapete, espalhei as folhas, lembrei-me brevemente do dia em que havia
feito tal maço e começou ali o que me consome até agora.

Tudo aquilo que hoje faz parte dos ignorados pela memória do faminto dia-a-dia que nos traga a todos todo dia, aquilo que escolhi num passado não tão distante sepultar, me vem como uma garrafa devolvida pelo mar. Como uma incômoda barata que entra voando pela janela de uma noite quente.

Memórias são coisas que por mais incômodas que nos sejam, trazemos conosco da forma mais confortável possível, a gente escolhe um canto na mochila de modo que não nos cutuque as costas e leva, leva a vida, é assim.

E lá dentro sofrem conosco as intempéries todas de quem escolhe sair na chuva, ficam num fundo quase se privilegiando do esquecimento, sofrem distorções em contato com novas experiências e acabam por se transformar e mudar, mesmo que seja só impressão nossa.

Mas isso é como um soco no nariz, ali deitado em cada folha amarelada estava eu mesmo, inteiro em idéias e sentimentos, sem os óculos do tempo.

Todas eram rascunhos originais de coisas escritas pra você. Papéis decorados, canetas coloridas, mensagens cruas de alguém que já morreu. Impossível não perceber a maneira de lutar de quem não se defende nunca e por isso morreu tão cedo.

Algumas eram respostas ao que agradeço por não me lembrar.

Voltei a sentir sabores e cheiros que há muito tempo, pelo menos em minha memória sem data, não sentia.

– Doce no início, amargo no final.

E ali no tapete espalhados toda sorte de emoções e sentimentos que são de conhecimento do homem e mais uma porção de outros ainda não documentados pela ciência em todo tipo de combinações. A experiência chegou ao nível extracorpóreo por pelo menos três segundos.

Ventania, tempestade, ressaca, frio congelante, calor sufocante, fui e vim de todos extremos humanos ou não ao ver seu rosto num susto entre as linhas de amor e confiança que eu lhe endereçava, tudo ao mesmo tempo.

Resolvi tudo com um saco preto, uma lata de lixo, uma caixa de fósforos e toda dor do mundo! Mesmo assim isso aqui ainda me consome.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Parabéns!



Eram tantas as velas que morreu sem fôlego ao soprá-las e a festa seguiu, de corpo presente!

domingo, 22 de maio de 2011

Como faço?


Hoje depois de tanto tempo voltei a pensar em você
Percebi quanto fui tolo em não perceber o quanto havia
Naquilo que a gente tinha alí nos bancos e corredores
E em tudo o mais que nossa profundidade poderia conter e continha
Não sei o porque de minha insensibilidade, frieza até
Desconsiderei mesmo sabendo, mesmo querendo, mesmo gostando
Joguei o ouro fora, grande inspiradora volta e inspirar

Tantas boas risadas inteligentes e repletas de conteúdo

Sua mímica encantadora, tantas coisas que fiz, pensei em tudo
As infinitas borboletas, andei nos telhados, tive sede
Fantasias, terremotos, energia de graça!
Acordei suando, desejei, fiquei feliz, fiquei triste...

Tive a oportunidade de ver a noite chegar ao seu lado na colina
A tive nos meus braços e apertei você contra meu peito
Sequei seu pranto, soube de seus segredos, aprendi, ensinei
Tanto em tão pouco tempo, mal sabia eu que seria assim
Achei que seria pra sempre, hoje choro eu longe de você

Quando vi você já havia se decidido e foi cortando aos poucos
Aos poucos mas firmemente, de forma que eu não poderia
Não poderia acreditar ou repetir.
Eu gostava de você, será que hoje você me vê?

Não deixou endereço, não deixou telefone, insisto...
Hoje nem meus emails você responde

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Toda emoção tem suas razões



Razão cheia de razão pensa poder
Daria conta da emoção
D'alma e corpo e d'um n'outro

Tal demanda hercúlea
Trabalho para mil Aquiles
Não há mente prodigiosa
Do alto do mais alto saber
Que veja tudo numa só olhada

Um coração dos mais simples
Que seja burro, que seja velho
Meio cego, um pouco surdo
Sente e carrega tudo
Com toda humildade
Sente, não precisa saber

Científicamente impossível mistura

Na bitola dos trilhos da razão
Não cabe o bonde da emoção

A cada movimento que faz da razão
Acomoda-se a emoção
Todo movimento da emoção
Ignorado pela razão

A emoção tem em seus significados
Encontrados pela razão, quem sabe?
Tem em si redobrados sem-número de outros
Tão significantes que desdobrados
Confundem irremediavelmente
Todo o saber sabido da razão

domingo, 15 de maio de 2011

Inconsciência


Libertária, clama o vento e sonha o sol
Deseja sempre mais
Malvada!

Recata e caprichosa
Amarra sem cordas ou grilhões
Nem tenta se explicar
Compromete.

Não permite mas exige
Consulte a sua, tranquilize-se
Então tranquilize-a
Já não faço isso com a minha
Simplesmente.

Tu consciência minha
Maldição e benção
Sê bem-vinda, sê bem-ida
Maldita!

sábado, 14 de maio de 2011

Coisa Qualquer

Qualquer coisa que me eleve
Que me sublime, que me reveja
Qualquer coisa que me entenda
Que me explique, que me aceite
Qualquer coisa...

Qualquer coisa que me aperte
Que me alivie e que lá sofra comigo
Alguma coisa que me refresque
Que me sopre outras esperanças narinas a dentro

Que me inspire, que me respire qualquer coisa
Uma coisa que me empane e que me coza
E que me frite e que me doure
E grite novas verdades ouvidos a dentro

Qualquer coisa que me veja
Que me fale e que me mude
Qualquer coisa que me faça
Uma faca que me corte, que me abra e boa sorte

Qualquer coisa que me queira
Uma qualquer que me anua
Coisa que me provoque
Qualquer coisa que me doa
Alguma coisa que me arda
Que me morda e que me engula

Alguma coisa que me aflija
Que me conforte e que me suporte
Qualquer coisa que me caiba
E uma que eu ainda não saiba
Qualquer coisa que me rime
E que me considere e o que seja

Qualquer coisa de mim mesmo
Eu mesmo

Um e Outro

Um louco
Outro nada normal
Um militante
Outro apolítico
Um ansioso
Outro inquieto
Um Imã
Outro ferro
Um transparente ao outro
Outro cristalino ao um
Um dobrável
Outro Flexível
Um de Áries
Outro também
Um imagina
Outro está lá

Há energia entre um e outro
Magnetismo que ora atrai, ora repele
E parece que nada alterava seus ciclos, suas brisas
Que poderia na louca realidade rabisquenta descansar
Na vida própria que tomara, passado presente futuro

A produzir um rascunho tão perfeito
Nada será capaz de passá-lo a limpo

Um projeto de sonho tão real quanto o nada no infinito
Onde moraria a beleza essencial, inicial em fim

Um encontro
Um em outro

Outro encontro
Um de uma, cada outro destes uns etéreos noutros a saber

É Um saber de que sabe
Que o outro já sabia
Um que se sabe do saber do outro
De um, de outro e vice-versa
Quase sempre