"Um conjunto de versos pode dizer mais do que um livro inteiro e fala coisas à alma, ao coração e ao corpo, basta ficar nas pontas dos pés e se esticar para alcançá-las." Marcos Pedroso.
segunda-feira, 30 de janeiro de 2012
Ela está
Mora em mim
não me deixa
segue me amando
Travestida de agitação
outras em fúria
do mundo a indignação
Diz querer-me bem
e que a habito
e moro em seu coração
E quer convencer
que seria melhor ceder
a esta que não se conforma
E parece morrer
de quando em quando
volta a me atormentar
Mostra quem é
mostra quem sou
assim sem disfarce
E chega como quem
vem de viagem
mas que nunca abandona
Reside mora vive
esta doce revolta
fiel companheira minha
Não surge apenas
apenas emerge assim
pela minha pele
pelo meu suor
segunda-feira, 23 de janeiro de 2012
Despedida
E um aceno em adeus com lenço branco
Ainda assim ficarei mesmo quando for
aqui em meus versos pra não voltar
ficarei assim pra quem quis a mim
E lá de longe hei então de ser
também o que se tanto quis
e ficarei de fato muito feliz
em atender expectativas
e aposentar frustrações
Eu picles no vinagre
de bons adjetivos
Quando lá só
assim no fim
serei bom
enfim
eu
segunda-feira, 16 de janeiro de 2012
Aula
Ele me deu um dizer e
um empurrão que dizia;
Vai, meu filho não para
segue aqui
Não permita que venha
dúvida no seu comboio
bastante atenção na estrada e
Curta o vento e o horizonte em linha
por aqui neste verso, lembre-se sempre
E ainda me disse assim
Há tanto, mas vem fresco aqui;
Não duvide, ainda confie
e se for errar, sem medo
faça-o com certeza
Coloque a bailarina pra dançar
tocando a canção com força
De alguma forma
uma boa dose de convicção
pode acertar o erro no erro
segunda-feira, 9 de janeiro de 2012
Madrugada
E de repente vindo como que
do nada, assim como
uma ânsia, um vômito que surge
direto na garganta
Vem-me tudo o que já pensei e penei
cada estribo de idéia
cada percepção sortuda
de uma fortuna de revezes até os ossos
Os meus ossos
testemunhas do pó
e o pó da estrada
Aquilo tudo que senti
e o que disse pra você
Meus segredos seus
num rompante distante
num choro mordido e miado
confidenciei a mim, com medo
E tudo o que escrevi
em letras miúdas toda raiva
Toda dor, todo arrependimento, meu
atrevimento e cada uma
das cores, dos sons, dos gostos
desgostos e arrepios
Tudo isso veio assim, aqui ó!
A encher-me baldes
Na boca os restos do que foi sólido e o
amargo manchando a garganta permanentemente
E de todas as imagens da imaginação humana
só uma ainda não se desfez em fumaça
A próxima página em branco
na ânsia da dança de minha pena
Uma apaixonada, medrosa,
indecisa, claudicante,
hesitante, tartamuda pena
teimosa, moribunda e
burra pena
E lá no final, a garganta vítima
irritada, chora e pede perdão
sem saber o motivo
Dorme para continuar
e continua
segunda-feira, 2 de janeiro de 2012
De Canto
Mas no saber daquilo que ignoramos e no desespero que isto causa nada me foi motivo para continuar ou para interromper sentimentos ou mesmo o fluxo dos pensamentos; ainda que estes me sejam infiéis e por vezes muito pouco saudáveis. Não temo o que me consome, eu apenas gostaria de ter mais controle sobre o que saber que me mastigam pela perna produz em mim.
O tempo este déspota cruel, este infante de mau humor, milionário excêntrico, verdadeiro e único detentor da batuta, em seu fraque preto, maestro malvado, como uma criança sádica que brinca com sua lupa, queimando formigas indefesas.
Com ele não há acordo, o que nos resta é apenas procurar entender a marcha com que toca este caminhar e como é que ele balança a batuta, verdadeira espada de duplo fio a nos cutucar, este dia-a-dia, que num sem parar deixa a qualquer um mais maluco do que o diretor de hospício. Loucura, aliás, que em certa medida nos atende como um recife, permanente atalaia da baia indefesa, contra estas ondas e ondas que o vento traz.
Colocando a parte, baias, tubarões, recifes, coleções, batutas-espadas, maestros, lupas, meninos, o tempo e o vento, o sabido e o ignorado, como se fosse possível, sigo minha ida por esta linha sem fim até seu fim na morte.
Nem sempre feliz, nem sempre triste, mas sempre indo.
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