segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Ela está


Mora em mim
não me deixa
segue me amando

Travestida de agitação
outras em fúria
do mundo a indignação

Diz querer-me bem
e que a habito
e moro em seu coração

E quer convencer
que seria melhor ceder
a esta que não se conforma

E parece morrer
de quando em quando
volta a me atormentar

Mostra quem é
mostra quem sou
assim sem disfarce

E chega como quem
vem de viagem
mas que nunca abandona

Reside mora vive
esta doce revolta
fiel companheira minha

Não surge apenas
apenas emerge assim
pela minha pele
pelo meu suor

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Despedida


E um aceno em adeus com lenço branco
Ainda assim ficarei mesmo quando for
aqui em meus versos pra não voltar
ficarei  assim pra quem quis a mim

E lá de longe hei então de ser
também o que se tanto quis
e ficarei de fato muito feliz
em atender expectativas
e aposentar frustrações

Eu picles no vinagre
de bons adjetivos

Quando lá só
assim no fim
serei bom
enfim
eu

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Aula


Ele me deu um dizer e
um empurrão que dizia;

Vai, meu filho não para
segue aqui

Não permita que venha
dúvida no seu comboio
bastante atenção na estrada e

Curta o vento e o horizonte em linha

por aqui neste verso, lembre-se sempre
E ainda me disse assim
Há tanto, mas vem fresco aqui;

Não duvide, ainda confie
e se for errar, sem medo
faça-o com certeza

Coloque a bailarina pra dançar
tocando a canção com força

De alguma forma
uma boa dose de convicção
pode acertar o erro no erro

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Madrugada


E de repente vindo como que
do nada, assim como
uma ânsia, um vômito que surge
direto na garganta

Vem-me tudo o que já pensei e penei
cada estribo de idéia
cada percepção sortuda
de uma fortuna de revezes até os ossos
Os meus ossos
testemunhas do pó
e o pó da estrada

Aquilo tudo que senti
e o que disse pra você
Meus segredos seus
num rompante distante
num choro mordido e miado
confidenciei a mim, com medo

E tudo o que escrevi
em letras miúdas toda raiva
Toda dor, todo arrependimento, meu
atrevimento e cada uma
das cores, dos sons, dos gostos
desgostos e arrepios

Tudo isso veio assim, aqui ó!
A encher-me baldes

Na boca os restos do que foi sólido e o
amargo manchando a garganta permanentemente

E de todas as imagens da imaginação humana
só uma ainda não se desfez em fumaça

A próxima página em branco
na ânsia da dança de minha pena

Uma apaixonada, medrosa,
indecisa, claudicante,
hesitante, tartamuda pena
teimosa, moribunda e
burra pena

E lá no final, a garganta vítima
irritada, chora e pede perdão
sem saber o motivo

Dorme para continuar
e continua

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

De Canto



A quantidade de coisas que a gente faz e aquela outra coleção de que a gente se lembra; em saber o quanto sabemos e tudo o mais que ignoramos e por mais que por tempo corra é nesta desabalada carreira que precisamos seguir.

Mas no saber daquilo que ignoramos e no desespero que isto causa nada me foi motivo para continuar ou para interromper sentimentos ou mesmo o fluxo dos pensamentos; ainda que estes me sejam infiéis e por vezes muito pouco saudáveis. Não temo o que me consome, eu apenas gostaria de ter mais controle sobre o que saber que me mastigam pela perna produz em mim.

O tempo este déspota cruel, este infante de mau humor, milionário excêntrico, verdadeiro e único detentor da batuta, em seu fraque preto, maestro malvado, como uma criança sádica que brinca com sua lupa, queimando formigas indefesas.

Com ele não há acordo, o que nos resta é apenas procurar entender a marcha com que toca este caminhar e como é que ele balança a batuta, verdadeira espada de duplo fio a nos cutucar, este dia-a-dia, que num sem parar deixa a qualquer um mais maluco do que o diretor de hospício. Loucura, aliás, que em certa medida nos atende como um recife, permanente atalaia da baia indefesa, contra estas ondas e ondas que o vento traz.

Colocando a parte, baias, tubarões, recifes, coleções, batutas-espadas, maestros, lupas, meninos, o tempo e o vento, o sabido e o ignorado, como se fosse possível, sigo minha ida por esta linha sem fim até seu fim na morte.

Nem sempre feliz, nem sempre triste, mas sempre indo.