Parece até que perdi minha capacidade criativa, o poder de escrever, invejado por alguns. Se algum dia tive este poder, parece-me sinceramente que se foi.
Não tenho sido capaz nem sequer de escrever duas linhas que me agradem, não encontro a forma, o motivo, nem mesmo vislumbro a direção para onde apontar minhas palavras.
Como um fumante que acaba o cigarro, pareço ter dado a última baforada para o alto, o cigarro acabou, apagou-se em bituca, e não tenho em meu pulmão nenhuma fumaça a apresentar.
Em meus caminhos diários, em minhas não curtas caminhadas, tento organizar pensamentos de modo que, imagino, poderiam colocar-se em palavras, mas isto me parece claramente um trabalho oco, estéril, infértil.
E é assim que tenho me sentido, infértil, estéril, como água limpa, como areia seca. Meu orgulho interno pelo que escrevia, o prazer de observar minha meia-dúzia de fãs lendo, e sem saberem bem o porquê, elogiando meus escritos, até isso está se perdendo e se desfazendo na fumaça da última tragada.
Hoje tenho morrido apneico, se não tenho ar!
Gostaria de ser poeta, amigo das palavras, intimo delas, tão íntimo que as faria dar de si muito mais do que o de costume, extrair o mais profundo de cada uma delas, sua essência a ponto de modificar a alma do leitor, este pobre desavisado!
Ser ficcionista, criar o verossímil, a verdade que é mentira, a mentira verdadeira, aquilo que talvez possa não ter ocorrido, mas da ponta da pena transforma-se, realiza-se em todas as cores, loiro, moreno, ou negro, de noite ou ao entardecer, misturando em uma alquimia formidável, a força da ficção e a imaginação do leitor, que generoso, vai dar sua roupa aos fatos.
Seja num conto rápido, em uma estória longa ou num haikai, numa novela ou numa redondilha de qualquer tamanho, o escritor busca a realização nos olhos de quem lê e que naquela hora é seu cúmplice.
Mas eu não! Choro a constatação de minha desistência. Não passo de tentar.
A crise me acompanha, e tem ma acompanhado há tempos, e a maldita demonstra muito mais fôlego do que eu jamais terei.
A demanda do viver é única, pessoal, intransferível, e na base do “cada um com seus problemas”, vou como dá, buscando um espaço, um tempo e ar para continuar vivo, vivendo, sobrevivendo, sub-vivendo.
Neste momento, que é impar, manter-me vivo sobre meus pés e, na medida do possível, gozando do mínimo de minhas faculdades mentais, sigo o caminho, que já disse alguém em uma música, só existe para quem caminha nele, e deixo meu tentar escritor de lado, com todas suas fantasias e pretensões à beira do caminho.
E, triste, finjo manter o controle.
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